Bob Dylan, o retratista, na National Portrait Gallery

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Nina Felix e Skip Sharpe, dois dos retratos de Bob Dylan que estarão na exposição de Londres a partir de dia 24

Self Portrait, o mais mal-amado dos álbuns de Bob Dylan, lançado originalmente em 1970, será o mote para o novo volume das Bootleg Series que nos têm dado tudo, mas tudo mesmo, o que que precisamos de conhecer musicalmente sobre o cantor, compositor e, genericamente, génio da música popular americana d’aquém e além-mar. Surge em bom momento. Quando chegar às lojas, no próximo dia 27, já estará aberta ao público há três dias Bob Dylan: Face Value, exposição de retratos de senhor Dylan, o artista, o pintor, o retratista, que a National Portrait Gallery de Londres acolherá até 5 de Janeiro.

Os representantes de museu avisam que os quadros não abordam “figuras da vida pública britânica, do passado ou do presente, nem são obra de um retratista em actividade”. São o outro lado de Bob Dylan que temos vindo o conhecer nos últimos tempos. Representam “personagens, com uma amálgama de traços que Dylan recolheu da sua vida, da sua memória e da sua imaginação e que estilizou em imagens de pessoas, umas reais e outras imaginárias”.

Que a National Portrait Gallery tenha tido o cuidado de alertar para o facto de os 12 retratos em pastel expostos serem produto das memórias e da experiência de vida de um cantor e não de um pintor, mesmo que esse cantor se chame Bob Dylan, não é surpreendente. Ou melhor, dado que esse cantor tornado pintor se chama Bob Dylan, o alerta é justificado. Afinal, há dois anos, a sua exposição Asian Series, na Gagosian Gallery, em Nova Iorque, causou polémica quando foi denunciado que as obras expostas não haviam propriamente resultado das viagens de Dylan pela Ásia: eram directamente inspiradas em fotos de décadas passadas, fotos que não tinham a autoria do cantor (uma delas, por exemplo, era de Cartier-Bresson).

Bob Dylan: Face Value tem curadoria de Sarah Howgate, responsável por exposições de retratos de David Hockney ou Lucien Freud na National Portrait Gallery. Um novo passo na afirmação de Dylan enquanto pintor, ele que conta que desenha desde que se lembra e que pinta desde a década de 1960? Ou uma curiosidade, aquela que sempre atrai tantos quando um nome destacado da música abraça uma nova expressão artística? No caso de Dylan, digamos que é mais uma máscara que coloca. 

Quanto à música, depois da edição de um novo álbum de originais, Tempest, em 2012, novo mergulho nos arquivos do passado com The Bootleg Series vol. 10. Another Self Portrait (1969-1971). Bem além, portanto, do Self Portrait amaldiçoado pela crítica, pelo público e na historiografia oficial de Dylan. Entre as 35 gravações disponibilizadas, atravessamos o período mais declaradamente country de Nashville Skyline, reinterpretam-se velhos tradicionais folk ao lado de versões de contemporâneos como Tom Paxton e, na versão deluxe (que expande para quatro os dois CD da versão standard), ouve-se a actuação com a The Band no Festival da Ilha de Wight em 1969.

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