O Mascarilha

Se em geral O Mascarilha aborrece de aborrecimento maçudo, num ponto particular aborrece de aborrecimento irritado: ver Johnny Depp (no papel do índio Tonto) a fazer aqui uma versão abastardada - blockabusterdada? - da sua personagem no quase sublime Dead Man de Jarmusch, já lá vão quase vinte anos (o tempo passa). Questão que vale a pena assinalar, assim como vale a pena perguntar (sem responder: seria assunto para “política de actores”) se Depp, um dos mais singulares e talentosos actores da sua geração, ainda cabe noutra coisa que não sejam “piratas das caraíbas” e quejandos. Quejando é este Mascarilha, mascarada de western que não tem olhos para coisa nenhuma (nem para o Monument Valley...) a não ser para os chatíssimos rodriguinhos do seu argumento, sem uma ideia para tratar o western como género ou como relação com a história americana, perdido num mar de clichés e personagens estereotipadas. Como quase tudo o que hoje em dia passa por “grande espectáculo”, confunde a “acção” com uma acumulação de peripécias em vez de fazer dela o relato de um acontecimento. É por isso que a tão celebrada cena final no comboio, suposta lembrar Buster Keaton, é um flop: filmada como está, montada como está, não faz acontecer nada (provavelmente porque, ao contrário do General de Keaton, a rodagem também não implicou acontecimento nenhum). Surpresa só uma, espécie de curiosidade inconsequente: aquele balãozinho vermelho que esvoaça no primeiro plano do filme, improvável citação de Albert Lamorisse (e Hou Hsiao-Hsen...).

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