Burka Avenger: super-heroína que luta pela educação

Protagonista de série de animação é uma professora primária que com livros e canetas luta pela educação das jovens do seu país. Mas nem todos gostam da "burka"

Uma série de animação paquistanesa tem estado nas bocas do mundo. Só no Youtube, o primeiro episódio foi visto por mais de 48 mil utilizadores em apenas uma semana e a página de facebook já conta com mais de 40 mil “gostos”.

Tudo por causa de uma super-heroína pouco convencional: “Burka Avenger” conta a história de Jiya, uma professora primária cujo alter-ego usa "burka" e luta pela paz, pela justiça e pela educação para todos, armada apenas com livros e canetas e ajudada por três crianças e uma cabra. Um malfadado mágico e um político corrupto que pretendem acabar com as escolas são os vilões da história, sempre ajudados pelos fundamentalistas.

"Burka Avenger" tocou na ferida de um país onde a percentagem de mulheres com mais de 15 anos que conseguem ler e escrever é apenas de 40.3% da população (em Portugal, a percentagem situa-se nos 93.6% e a média mundial nos 79.7%). E convém salientar que a história tem semelhanças com a de Malala Yousafzai, uma paquistanesa adolescente, activista pela educação das raparigas do seu país, e que sobreviveu, miraculosamente, a um atentado dos talibans, em Outubro de 2012, quando foi baleada na cabeça. Malala Yousafzai, transformada num ícone do activismo, discursou no mês passado na sede da ONU. 

Em declarações à AFP, Haroon Rashid, o criador da série, um cantor e compositor anglo-paquistanês, afirma haver planos para a tradução do programa (que estreou no Paquistão num canal privado a 28 de Julho) em 18 outras línguas.

O exemplo o estereótipo?

Um programa infantil, num país onde a programação para crianças quase não existe, ainda para mais protagonizado por uma mulher - também elas sem voz voz na sociedade -, tem desencadeado reacções à escala mundial.

No primeiro episódio, a protagonista diz mesmo: "Se queres ser bem-sucedido, torna as canetas e os livros os teus melhores amigos". "Este é o meu tipo de super-herói", pode ler-se em múltiplas crónicas. "A reacção das pessoas tem sido absolutamente fenomenal, muito para além das nossas expectativas", disse também o cantor à AFP .

O disfarce através da "burka" tem sido, no entanto, uma escolha muito criticada. Muitos se perguntam o quão apropriado é o seu uso, geralmente considerado um símbolo de opressão, como ferramenta de promoção do fortalecimento do poder das mulheres. Rashid afasta as críticas: "Ela não usa a "burka" porque é oprimida. Ela usa-a, ela escolhe usá-la, para esconder a sua identidade, da mesma maneira que os outros super-heróis usam outros fatos para o fazer. Como a "Catwoman" ou o "Batman"", conta à CNN. O cantor também chama a atenção para o facto da protagonista não a usar sem ser em acção e acrescenta ainda que a "burka" faz parte da cultura do país, quer se queira, quer não.

A escritora paquistanesa Bina Shah tem sido uma das vozes que mais se tem insurgido, nomeadamente através do seu blog: "As jovens paquistanesas precisam de perceber que não é natural terem que viver escondidas para sentirem que têm uma presença na sociedade aceitável, segura… Ficarei horrificada se perceber que meninas pequenas começaram a usar a "burca" em imitação da sua heroína." Para a indiana NDTV, adianta: "A mensagem que gostaria que os criadores passassem era a de que, para fazer a diferença na sociedade, as mulheres não podem permanecer invisíveis enquanto se dedicam a uma luta, seja ela qual for."

Quanto à coincidência entre a história de Malala e a da série, Haroon Rashid afirma que já se encontrava a desenvolver o projecto quando a tragédia ocorreu, e que ficaram chocados, pois “parecia que a vida real estava a imitar a nossa ideia”, contou também ao Washington Post.

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