Estátua do cónego Melo em Braga foi vandalizada durante a noite

“Fascista” e “assassino” foram as palavras inscritas com tinta vermelha na base da estátua.

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A escultura também foi atingida por um recipiente que a deixou com tinta azul DR

“Fascista” e “assassino” foram as palavras inscritas com tinta vermelha na base de mármore que suporta a estátua. Já a escultura de bronze terá sido atingida com um recipiente com tinta azul, uma vez que se encontrava pintada desta cor da cintura para baixo e com marcas da escorrência do líquido no pedestal. A acção terá ocorrido durante a madrugada. O protesto da véspera tinha decorrido de forma pacífica e os manifestantes desmobilizaram pouco depois das 20h.

Cerca de uma centena de pessoas prometeu que, enquanto a imagem de Eduardo Melo continuar na cidade, os protestos vão continuar. O “apeamento” da estátua foi a exigência mais difundida ao final da tarde de segunda-feira, quer por palavras de ordem quer através da faixa colocada na relva da rotunda do Monte D’ Arcos, na qual se lia “Democracia sim. Abaixo a estátua”.

Manifestantes demarcam-se do acto de vandalismo

O movimento que organizou esta manifestação demarca-se dos actos de vandalismo que aconteceram esta madrugada. “Não temos absolutamente nada a ver com isso”, assegura o sociólogo Manuel Carlos Silva, que foi um dos porta-vozes da indignação de cerca de uma centena de pessoas.

“O movimento que apelou a esta concentração pacífica, não tem nada a ver com os actos posteriores”, sublinha o professor catedrático da Universidade do Minho, ainda que considera “compreensível a indignação” face à colocação do monumento de homenagem ao antigo vigário-geral da Arquidiocese de Braga na rotunda do Monte D’Arcos, junto ao cemitério municipal. Carlos Silva foi apanhado de surpresa quando abordado pelo PÚBLICO. “Nem sabia o que se tinha passado”, comentou.

A estátua do cónego Melo foi instalada junto ao cemitério municipal de Braga, depois de autorizada, em Maio, pela autarquia local, numa votação em que os vereadores do PS votaram favoravelmente, ao passo que os eleitos do PSD e CDS se abstiveram. No pedestal da estátua de Eduardo Melo foi colocado uma irónica biografia do cónego, lembrando-o como “admirador confesso do Estado Novo e do ditador Oliveira Salazar” e sublinhando a sua alegada ligação a movimentos de extrema-direita, responsáveis por ataques bombistas a sedes do PCP e de organizações sindicais no pós-25 de Abril. O "Verão quente" foi, aliás, o período em que o vigário-geral da diocese de Braga afirmou o seu poder, depois de ter ascendido ao cargo no início da década de 1970.

Envolveu-se nas lutas políticas, sendo uma das figuras de proa do combate à influência que o PCP tentava conquistar na região Norte. Terá estado ligado ao Exército de Libertação Nacional (ELP) e ao Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), associado ao general António de Spínola, chegando mesmo a ser indiciado pela morte do padre Max, um sacerdote de Vila Real conotado com movimentos de extrema-esquerda que foi assassinado em 1976, não tendo chegado a ser pronunciado. Eduardo Melo morreu em 2008, aos 80 anos.
 
 Notícia actualizada: acrescentados os 4.º e 5.º parágrafos
 
 
 
 

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