Polémica estátua ao cónego Melo colocada neste sábado em Braga

PCP e BE contestam homenagem, que consideram uma "provocação".

Foto
Despesas e receitas descem de 101 para 90 milhões de euros paulo ricca

Numa iniciativa de um grupo de cidadãos de Braga, para homenagear aquele que foi vigário geral da arquidiocese durante mais de três décadas, a estátua foi colocada na rotunda de Monte de Arcos. A cerimónia da inauguração, que chegou a estar prevista para 15 de Agosto, foi adiada para depois das eleições autárquicas.

Na câmara, a colocação do monumento foi aprovada com os votos favoráveis do PS e com a abstenção dos vereadores eleitos pela coligação Juntos por Braga (PSD, CDS-PP e PPM).

“Quer homenagear o cidadão cónego de Melo. Que fique bem claro. O cidadão, o bracarense, que era um bracarense dos sete costados. Era um grande bracarense e, como tal, é essa homenagem que nós lhe devemos. O resto tem que ser abstraído”, justificou o presidente da Câmara, Mesquita Machado.

“A autarquia autoriza mas não tem nenhum envolvimento directo na iniciativa. Entendemos que é uma iniciativa que não iríamos desenvolver, mas também não íamos obstaculizar”, disse, por sua vez, o líder da coligação Juntos por Braga, Ricardo Rio.

Contestação à esquerda
O Bloco de Esquerda de Braga considera que a estátua é uma “provocação”, sublinhando que o homenageado, logo após a revolução do 25 de Abril de 1974, que levou à queda da ditadura, “participou na organização fascista autodenominada Exército de Libertação Nacional [ELP], promoveu a destruição de sedes do PCP e de organizações de esquerda e apoiou atentados bombistas, designadamente o que vitimou o padre Max”.

“No período constitucional, o cónego Melo foi um activo promotor de interesses imobiliários especulativos, por vezes contra a própria igreja bracarense, como aliás foi denunciado por sectores desta, a propósito, designadamente, dos terrenos da Quinta do Colégio dos Órfãos”, acrescenta um comunicado do Bloco de Esquerda.

A estátua é igualmente contestada pelo PCP, que defende que a iniciativa deve ser “fortemente repudiada” pelos “defensores” da liberdade. “O cónego desenvolveu um dos mais destacados papéis como autor e mandante na conspiração ao serviço da extrema-direita, ao serviço da contra revolução, que, da forma mais hipócrita e mentirosa, justificou como sendo ao serviço da religião e da Igreja Católica”, acusou António Lopes, histórico militante do PCP/Braga.

A homenagem ao cónego Melo foi proposta por um grupo de cidadãos que entende que “foi um homem que tantos serviços prestou” e que, por isso, esta estátua “é merecida”. Segundo um dos responsáveis pela iniciativa, Pinto Cardoso, “era difícil os bracarenses aceitarem que a estátua não fosse colocada”.

“Estamos numa altura em que a sociedade está muito pobre em valores. O cónego Melo foi uma pessoa extraordinária. É difícil acontecer aparecerem agora valores destes. São exemplos para as juventudes vindouras”, justificou, assim, o motivo da homenagem.

Quanto às críticas, Pinto Cardoso defendeu que “os que agora cortam no cónego Melo, o fazem por desconhecimento ou maldade”.