Cem pessoas terão morrido durante a madrugada no Cairo
O balanço da violência no Egipto ainda não é certo e varia consoante as fontes. Morsi poderá ser transferido para a mesma prisão onde está Mubarak.
Não se sabe ao certo o número de vítimas – devido ao Ramadão, os protestos foram marcados para depois do anoitecer. A estação de televisão Al-Jazira avança um balanço de 120 mortos e 4500 feridos. A Reuters apoia-se na informação de um porta-voz da Irmandade que fala em 66 mortos e 61 pessoas em "morte cerebral". A AFP cita um hospital de campanha da Irmandade que diz que pelo menos 75 apoiantes de Morsi foram mortos em confrontos com a polícia. O jornal britânico The Guardian fala em mais de cem. O Ministério da Saúde egípcio veio entretanto dar o número de 65.
Londres, pela voz do chefe da diplomacia britânica William Hague, “condenou o uso da força contra os manifestantes" e disse estar “muito preocupado com a evolução dos acontecimentos no Egipto”. Numa declaração muito crítica, apelou as "autoridades do Egipto a respeitarem o direito [das pessoas] a manifestarem-se de forma pacífica, a porem fim à violência contra os manifestantes, incluindo os disparos de balas reais, e a pedirem contas a todos os responsáveis”.
A chefe da diplomacia da União Europeia Catherine Ashton lamentou as mortes da última noite no Egipto e apelou às autoridades para garantirem a realização de “manifestações pacíficas”. E Paris pediu a “todas as partes, nomeadamente o Exército, a uma maior retenção”, informou o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.
"Dispararam para matar", acusa Irmandade Muçulmana
Morsi foi deposto no início de Julho pelo general Abdel Fattah al-Sissi, que marcou para sexta-feira uma grande manifestação no Cairo em apoio às mudanças iniciadas por si e pelos militares. Em resposta, a Irmandade Muçulmana, a que o Presidente deposto pertence, chamou os seus apoiantes também à rua.
Ainda de madrugada, os milhares de apoiantes de Morsi e membros da Irmandade Muçulmana estavam no bairro de Nasr City, para mais uma vigília este sábado quando as forças de segurança os dispersaram. A Irmandade diz que o fizeram com balas. “Eles não dispararam para ferir. Eles dispararam para matar”, denunciou Gehad El-Haddad, porta-voz da Irmandade Muçulmana.
"Muitos estavam em mau estado. Alguns não tinham partes da cabeça — tinham sido arrancadas pelas balas”, dizia o jornalista da BBC Quentin Sommerville, no Cairo. Os médicos que trataram os feridos estavam indignados. A maioria tinha sido atingida por balas, dizia o médico Hesham Ibrahim à BBC, muitos por snipers que disparavam a partir dos telhados. “Nem os animais fazem isto uns aos outros”, dizia o médico, irado.
A agência estatal de informação MENA cita, sem dar o nome, um membro das forças de segurança a dizer que não foram usadas armas para dispersar a concentração desta noite, apenas gás lacrimogéneo, refere a Reuters. E já depois disso, o ministro do Interior Mohamed Ibrahim, no cargo desde o golpe de há quase um mês, negou o uso de balas reais.
Ministério do Interior culpa islamistas
Uma nota do ministério citada pela Reuters dizia esta manhã que a responsabilidade pela violência e pelas mortes devia ser atribuída aos islamistas. Desde que Mohamed Morsi foi deposto, pelo menos 200 pessoas morreram, segundo números não actualizados com os dados mais recentes das violências desta madrugada.
As manifestações de apoio ao ex-Presidente (eleito há pouco mais de um ano e deposto há quase um mês) têm-se centrado no bairro de Nasr City, junto à mesquita Rabaa Al-Adawiya, onde a repórter da Reuters diz ter visto, pelo menos, 20 corpos que jaziam sob lençóis brancos. Outras vítimas teriam sido levadas, disse o porta-voz da Irmandade Muçulmana Gehad El-Haddad.
Na sexta-feira, o ministro prometeu, em declarações ao site de notícias estatal al Ahram, “pôr fim às vigílias de apoio a Morsi em breve e de forma legal”. A desta noite foi organizada já depois de saberem que o Presidente deposto tinha sido acusado de conspirar com o grupo islâmico Hamas para “matar polícias, soldados e prisioneiros”.
O ministro do Interior disse este sábado aos jornalistas que Morsi, que se encontra em lugar incerto, poderá ser transferido para a mesma prisão onde está o ex-Presidente Hosni Mubarak, deposto em 2011.