É a ferramenta mais antiga da Europa ocidental. Tem 1,4 milhões de anos
Lâmina de sílex é uma das várias novidades de Atapuerca, sítio arqueológico no Norte de Espanha escavado desde os anos de 1970. Divulgadas também imagens da última campanha de escavações, em Julho.
O fragmento de sílex estava em Sima del Elefante, uma das jazidas de Atapuerca, num nível dois metros abaixo da camada onde, em 2007, já se tinha encontrado uma mandíbula humana com 1,2 milhões de anos – e que foi então considerada como os restos do “europeu mais antigo”.
Coberto por três toneladas de sedimentos, o fragmento tem “um grande valor”, sublinhou Eduald Carbonell, um dos três directores da escavação arqueológica, durante a apresentação dos resultados da campanha anual de escavações, durante este mês de Julho.
“Com esta descoberta, pensamos que nos aproximamos do limite admitido da primeira ocupação da Europa ocidental, que remonta há 1,5 milhões de anos”, referem, por sua vez em comunicado, os investigadores.
De riqueza excepcional, as jazidas da serra de Atapuerca estão em escavação desde a década de 1970. Embora as jazidas cubram um período que recua até 1,5 milhões de anos, jamais foi descoberta uma ferramenta ou resto ósseo humano tão antigo.
Em contrapartida, refere o comunicado, várias ferramentas de pedra trazidas à luz do dia durante a última campanha com “cerca de um milhão de anos confirmam a continuidade do povoamento humano da Europa desde o seu início, há cerca de 1,5 milhões de anos, até ao aparecimento do Homo antecessor, há cerca de 850 mil anos”.
O mundo soube da existência do Homo antecessor como uma espécie nova de humanos em 1997, na revista Science: esses ossos revelavam que a Europa ocidental já era ocupada por humanos há mais tempo do que se supunha. A equipa de Atapuerca também considerou o Homo antecessor o antepassado comum da nossa própria espécie – o homem moderno, ou Homo sapiens sapiens – e dos Neandertais.
Originário de África, o Homo antecessor veio para a Europa, onde terá depois dado origem ao Homo heidelbergensis e este originou, por sua vez, os Neandertais, um ramo evolutivo que acabou por se extinguir há cerca de 28 mil anos. Em África, o Homo antecessor acabaria por desembocar no homem moderno, que depois de lá saiu e se espalhou pelo mundo.
Urso gigante
Para a equipa de Atapuerca, as descobertas da campanha de 2013 “contradizem as hipóteses avançadas por alguns que consideram que o primeiro povoamento da Europa foi uma sucessão de pequenas vagas humanas, sem continuidade no tempo e condenadas à extinção devido à sua incapacidade em se adaptarem a novos espaços”. “Embora sejam ferramentas muito arcaicas, já reflectem actividades complexas, como a recuperação de animais apanhados em grutas [que funcionavam como armadilhas]”, acrescenta o comunicado.
Ainda dessa altura, as escavações permitiram descobrir diversos restos daqueles que eram há um milhão de anos os “reis das grutas de Atapuerca”, o Ursus dolinensis, ainda que se encontrassem também ossos de outros animais como rinocerontes, veados gigantes, bisontes e burros-selvagens: “Era um urso de grande porte, antepassado directo dos futuros ursos das cavernas e muito próximo do antepassado comum dos actuais ursos-castanhos.”
No final da campanha de 2013, os arqueólogos apresentaram ainda uma peça muito rara: uma omoplata fossilizada identificada como sendo de uma criança de quatro anos de idade, datada de há 800 mil anos. Era, portanto, uma criança da espécie Homo antecessor. Descoberto em 2005, este fóssil estava preso num bloco de argila calcificado e exigiu sete anos de trabalho para ser finalmente separado do seu invólucro. Depois de analisado, deverá ter lugar no Museu da Evolução Humana de Burgos, onde estão expostos os vestígios mais notáveis das jazidas de Atapuerca.