O nevoeiro do título estava já no título do romance de Vasil Bykov que Sergei Loznitsa aqui adapta - mas refere-se também ao “nevoeiro da guerra”, com que Errol Morris denominou o seu documentário sobre Robert McNamara (em português Testemunhos de Guerra, 2006) mas que serve também de definição da suspensão das certezas em tempo de guerra, substituídas por dúvidas e relativizações. A segunda ficção do cineasta bielorrusso, depois da disfunção satírica de A Minha Alegria (2010), é um brilhante exercício narrativo em modo mosaico, à volta de um episódio de trágica ironia da II Guerra Mundial vista do lado russo, das noções de traição, resistência e sobrevivência. Rigoroso, inteligente, impecavelmente equilibrado entre a emoção e o cérebro, No Nevoeiro é certamente menos atmosférico e mais convencional que o seu predecessor, mas marca igualmente uma maior clareza e precisão no olhar paciente de Loznitsa, observador impiedoso da alma russa, ontem como hoje.
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