Deverá estar entre os melhores filmes de François Ozon, sem truques nem cauções, apenas aquela eficácia narrativa que já sabemos que é um dos seus dons mas que ele deita demasiadas vezes a perder à custa de um exibicionismo quase irreprimível. Aqui, por exemplo, contém-se até ao fim para citar Hitchcock (A Janela Indiscreta, e era escusado: é um bocado como explicar uma anedota). O filme, de resto, expõe um punhado de temas bem hitchcockianos (o voyeurismo, a manipulação), nesta história do jogo entre um professor e um ficcionista brilhante que é seu aluno, para afirmar a cada passo toda a perversidade da relação entre “realidade” e “ficção”, e o desejo da segunda em intervir sobre a primeira, transformar-se nela, fundir-se com ela. Perverso também na maneira como “instrumentaliza” as suas personagens, sobretudo as da família-cobaia, burguesia de província entediada e um pouco tonta - mas onde Chabrol (outro hitchcockiano) seria capaz de um olhar mais abrangente, mais rico, mais ácido, Ozon concentra-se na sua própria mecânica narrativa e no desbobinar, um tanto desalmado (quase funny games) da sua lógica implacável. É a força do filme, e é também a sua fraqueza. Ainda assim, altamente visível.
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