Arquitecto José Neves vence Prémio Secil com projecto de escola em Lisboa
Depois de em 1998 e 2004 ter sido nomeado para este prémio com a Casa do Moinho e o Edifício C6 e Alameda da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, respectivamente, José Neves venceu finalmente o Secil de Arquitectura com a obra que requalificou a Escola Francisco de Arruda, realizada no âmbito do Programa de Modernização das Escolas, promovido pela Parque Escolar.
Projectada originalmente pelo arquitecto António José Pedroso em 1956, a escola, que fica em Alcântara, foi não só restaurada como aumentada. No que diz respeito ao conjunto original de pavilhões, José Neves fez um trabalho de adaptação do espaço às novas necessidades que agradou ao júri.
Para o arquitecto Manuel Graça Dias, presidente do júri, a forma como José Neves pensou esta escola “é de uma grande inteligência”. “O que sentimos é que o arquitecto deu sentido ao que já existia mas que estava até agora desgarrado. É uma obra sem alterações muito vistosas, muito sóbria e pensada para o uso diário”, destaca Graça Dias, sublinhando a relação da obra com o exterior. “É um lugar onde nos sentimos confortáveis.”
Neste cuidado com os espaços exteriores, destaca-se “a continuidade da vegetação da Tapada através de novas plantações, de modo a enfatizar o sentido de jardim público do conjunto”. Preocupação, aliás, visível até nos edifícios que têm grandes portadas e janelas, que permitem uma vista privilegiada para os jardins.
Sobre a obra, José Neves explica que para a sua concepção partiu destas duas frases de João Santos: “O que é importante na educação, antes de mais, é o ambiente natural e esteticamente harmonioso em que ela se processa”; e “Se não tens uma aldeia, meu filho, tens de ir em busca dela! Um menino não pode viver sem ter a sua aldeia”.
“Relativamente à primeira, ajudou muito a situação original da escola, muito particular: uma espécie de jardim que continua a tapada da Ajuda. E isto liga-se muito fortemente à segunda ideia de João dos Santos, pois sabemos que se aprende tanto na rua como em casa, tanto nos recreios como nas salas de aula”, explica José Neves, que apoiou assim o seu trabalho na obra original de António José Pedroso. O que aconteceu, diz, é que apenas se destruiu ou substituiu aquilo em que se acreditou que se poderia fazer melhor. “A escola faz parte da memória colectiva desta parte de Lisboa (chamam-lhe Xica), e por isso fizemos de tudo para salvar os edifícios na sua integridade original, o que é uma dificuldade enorme com os regulamentos actuais, muitos deles inadequados à nossa realidade”, diz o arquitecto, que projectou ainda edifícios novos. A entrada principal da escola, por exemplo, foi pensada para os dias de hoje.
É por isso que Graça Dias, júri ao lado de Nuno Brandão Costa (vencedor do Prémio Secil Arquitectura 2009), Paula Araújo da Silva (nomeada pela Secretaria de Estado da Cultura), Armindo Alves da Costa (da Associação Nacional dos Municípios Portugueses), Ana Tostões (da Secção Portuguesa da Associação Internacional dos Críticos de Arte) e Pedro Machado Costa (da Ordem dos Arquitectos), garante que esta foi a obra que mais surpreendeu.
Sobre o prémio, que tem o valor de 50 mil euros e que é dado de dois em dois anos, Graça Dias destaca o nível dos arquitectos já escolhidos. Eduardo Souto de Mouro foi o último premiado com a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais. "Não é uma novidade mas olhando para este catálogo percebemos a arquitectura de qualidade que temos em Portugal", diz o presidente do júri, "arriscando dizer que na próxima edição se notará um menor número de candidatos". "Não há trabalho, não se constrói e isso vai começar-se a notar."
Notícia actualizada às 19h36: Acrescentadas as declarações dos arquitectos José Neves e Manuel Graça Dias