Cientistas portugueses usam ouro para combater o cancro

Manuel Coelho e Sílvia Castro Coelho, investigadores da Universidade do Porto, estão a desenvolver um tratamento oncológico que envolve nanopartículas de ouro

Manuel Coelho é professor na Faculdade de Engenharia do Porto e já tem um largo currículo. Sílvia Castro Coelho tem 29 anos e espera acabar o doutoramento em Setembro. A dupla improvável uniu-se contra o cancro e está a desenvolver um tratamento que envolve nanopartículas de ouro.

A meta de Sílvia e Manuel tem dois objectivos: diminuir a concentração das drogas anti-cancro no corpo dos pacientes — evitando assim uma vasta lista de efeitos secundários — e contornar o normal "tempo de vida" destas drogas no organismo, ou seja, evitar a "habituação", que leva muitas vezes a que deixem de fazer efeito.

Para isso, recorrem a partículas de ouro que medem cerca de 20 nanómetros — uma medida impossível de imaginar mas de facto muito pequena. Funcionalizam-nas de uma "determinada maneira, demasiado científica para ser explicada", como diz Manuel, e juntam-lhes "umas moléculas especiais, anti-cancro".

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Aspeto de célula tumoral pancreática após incubação com nanopartículas de ouro e droga

Método não foi testado em humanos 

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Aparência da célula tumoral pancreática

A ideia é injectar depois estas nanopartículas de ouro no organismo e a partir daí, esperar que façam o seu trabalho, que é basicamente penetrar nas células tumorais. Contudo, é preciso frisar que o método ainda não foi testado em humanos. 

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Aspeto de célula tumoral pancreática após incubação com nanopartículas de ouro e droga

"Estas partículas têm a facilidade de se chegarem às células tumorais e entrarem com mais facilidade do que a droga sozinha", explica Manuel. "As células tumorais ficam completamente cheias de partículas", diz o professor.

"Ao baixarmos as concentrações de drogas para atingir as células tumorais, também atingimos muito menos as células normais, já que a droga é muito prejudicial para elas", sublinha. É que muitas vezes, quando se verifica que o tumor já não está a reagir, por exemplo "têm de se aumentar as concentrações", já que "estas drogas têm um tempo de vida e circulação no sangue muito baixo". Isto "leva a efeitos secundários fortes e a uma 'multi drug resistance' [resistência a várias drogas], ou seja, aplica-se outra e mesmo essa já não funciona", explica Manuel.

A experiência, que já desperta a curiosidade da comunidade científica internacional, está, por enquanto, a ser levada a cabo com três linhas celulares — duas pancreáticas e uma prostática — e está a obter "bons resultados". O próximo passo, segundo Manuel, é a experimentação animal.

Tanto que passou seis meses em Oslo, na Noruega, (graças a duas bolsas, uma portuguesa e uma norueguesa) no "Institute for Cancer Research", do "Radium Hospital" — onde inicialmente se trabalhou esta ideia — a trabalhar para o projecto. É que a "equipa das nanopartículas" é multidisciplinar e está por todo o mundo: envolve a Universidade de Oslo (UiO), a Universidade do Nebraska (UNL), o Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), uma data de parcerias e o financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Sem financiamento e apoios, o projecto também não tinha pernas para andar: "Usamos moléculas que custam 500 euros um miligrama", diz Manuel. É que as nanopartículas de ouro são o que, afinal, sai mais barato.

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