Camille Claudel 1915

Bruno Dumont põe - um pouco - de lado as questões religiosas e teológicas que têm estado no centro dos seus últimos filmes para se concentrar, sobretudo, noutro aspecto que também tem rasto na sua obra: o rosto, como único traço legível (ou ilegível, mas enfim, é uma questão de possibilidade) do que vai dentro duma alma. É o motivo maior de Camille Claudel 1915 e o rosto de Juliette Binoche a sua matéria de base. Dumont, que se habituou a frequentar as redondezas de Dreyer ou Bresson com uma desfaçatez a todos os títulos admirável, tem uma ideia para Binoche: filmá-la à procura da (e medindo-a com) fisionomia trágica de certas heroínas de antanho, a Falconetti da Paixão de Joana d''Arc à cabeça. Se a encontra, pode-se discutir, mas o caminho vale a pena ser seguido; e mesmo se preferimos os enigmas de Hadewijch ou de Fora de Satanás, Camille Claudel 1915 não desmente em nada a coerência e o interesse do cinema de Bruno Dumont, eventualmente ímpar na cena contemporânea.

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