Habitar esculturas com Miguel Arruda no Museu do Design
Exposição mostra quatro peças de design inéditas e revela pela primeira vez os bastidores da peça Escultura Habitável que esteve nos jardins do CCB.
Miguel Arruda, arquitecto, designer e escultor é visto agora pelo prisma do seu processo criativo, focado em Escultura Habitável, para, como diz o museu em comunicado, compor “uma narrativa sobre uso, escala, forma e matéria que persistentemente oscilam entre escultura, design e arquitectura e marcam a trajectória do seu trabalho ao longo do tempo”. Escultura Habitável é uma construção metálica coberta de cortiça que faz uma evocação formal dos trabalhos de escultura do autor, tema que acabou por levá-lo ao Museu da Triennale de Milão, uma das capitais mundiais do design, onde se realizou uma mostra dedicada exactamente ao tema da “escultura habitável”.
Na década de 1960, contudo, o seu trabalho como escultor levava-o mais longe – pelo menos perante o país. Como escreveu em 2010 o crítico e curador Delfim Sardo sobre Escultura Habitável, a origem de tudo está na exposição que em 1968 foi feita com as peças de Miguel Arruda na Galeria Diário de Notícias - “eram obras pioneiras em Portugal” à época. “As esculturas partiam de um módulo que se repetia de uma forma serial e repetitiva, acumulando-se de formas diversas na formação de corpos que possuíam uma qualidade simultaneamente escultórica e arquitectónica”, escreve o crítico. O seu pioneirismo prende-se com a articulação que faziam entre corporalidade e espacialidade “que não tinha constituído descendência na arte portuguesa”, mas também porque “as questões da serialidade não eram ainda (como viriam a ser mais tarde) tópicos recorrentes do trabalho dos artistas portugueses”.
Miguel Arruda, então, trabalhou na “intimidade entre arte e arquitectura” e, como assinala Sardo, quando regressa ao tema naquele jardim em Belém quatro décadas depois dessa exposição, fá-lo “à escala arquitectónica” produzindo um “objecto inclassificável, na sua mudança de escala”, mas com um “carácter lúdico” e “epiderme lusitana”, remata Delfim Sardo .
Até 18 de Agosto, a exposição fica no segundo piso do museu acompanhada por quatro novos projectos do arquitecto, todos em torno da cortiça como material de base – o sofá de cortiça e borracha Cubo, os candeeiros Nomadi, o banco Amarração (com versão de exterior e interior, para diferentes clientes, a Larus e a Sofalca) com aglomerado negro de cortiça ou granulado desta casca do sobreiro e cimento, e os sofás Espherical.
O Mude – Colecção Francisco Capelo conta no seu espólio permanente com peças de design de Arruda, que serão coligidas num núcleo especial no piso zero, onde está a exposição permanente do museu.
Nomeado para o Prémio Mies van der Rohe de arquitectura em 2010, Arruda é licenciado em Escultura (1968) e Arquitectura (1989), e as suas peças estão integradas nas colecções de vários museus portugueses e internacionais, tendo também carreira académica como coordenador do curso de Design da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, de cujo conselho directivo foi presidente entre 2004 e 2008.
Nascido em 1943, entre as suas obras mais conhecidas – e do seu atelier, Miguel Arruda Arquitectos Associados - estão o edifício e conteúdo expositivo do Centro de Informação da Expo-98 em Lisboa, mas também os interiores da já encerrada Loja da Valentim de Carvalho no Rossio, a imagem e projectos dos espaços comerciais da Portugal Telecom, BPI ou lounges VIP da TAP, bem como o projecto para o Centro Cultural do Bom Sucesso ou o estudo de Requalificação da Frente Ribeirinha Polis XXI. Arruda é também autor do projecto para a nova biblioteca, com sete pisos, na zona ribeirinha de Vila Franca de Xira, orçada em 5,6 milhões de euros na zona dos silos da antiga fábrica de descasque de arroz da Sociedade Industrial de Vila Franca – que inclui também uma área de habitação e comércio, sob o nome Jardins do Arroz.
A exposição serve também de mote para lançar um livro dedicado a Arruda, que para o mesmo é entrevistado pela directora do museu, Bárbara Coutinho, e que conta ainda com textos de Delfim Sardo e Francisco Mega Ferreira.