A Nick´s Pension foi de encontro às minhas expectativas. O quarto tinha vista para um quintal de arrozais que à noite se transformava na sinfonia de Beethoven da classe dos bichinhos rastejantes. É uma experiência selvática total, especialmente quando se vai ao WC para a “meditação orgânica” do dia e um ser verde fita-nos lá de cima. Aí há que lembrar que uma jornada fora da zona de conforto requer o ultrapassar de algum medo, por mais pequeno e peganhento que ele seja. Posso dizer que, no final, já tomava banho, alegremente, com estes bichos pregados no tecto. "Keep calm, you´re in Bali".
No meio de toda aquela arca de noé anfíbia, destaque para o Geko, um bichinho carismático de cordas vocais afoitas, que repete as sílabas pelo qual é intitulado: Ge(agudo)Ko(grave). O bichinho não é mau e gosta de exemplares que chupam o sangue, poupando-nos tempo, repelente e paciência. Estive tentada a aniquilá-lo sempre que me despertava do meu sono de beleza balinês. No entanto, creio que me esperava um caldeirão no inferno. Bali é um sítio tão zen e harmonioso que é impensável sequer espezinhar uma barata. Depois, desconhecia-lhe o tamanho real, as suas potencialidades. E confesso que a chinfrineira impunha respeito. No entanto, o Geko não passa de mais um réptilzito que se encaixa no ditado português do “cão que ladra, não morde”.
Pequeno-almoço. Tostas, panquecas, fruta e chá. O "staff" luzia os dentes em saudações emanando bondade e boas energias. A comida era condimentada em especiarias entre o doce e o picante. Os pratos mais requisitados foram Sate Attan e Nasi Goreng.
Ubud é magnífico. A arquitectura balinesa compreende cores escuras de rocha vulcânica e nasce musgo em todas as frestas. O resultado é um padrão de várias tonalidades de verde numa pradaria urbana que envolve toda a cidade, incluíndo as estátuas e estatuetas erguidas em toda a parte, todas emperiquitadas com flores ou oferendas.
Alguns templos são feitos em rochas, um hino à sustentabilidade e ao aproveitamento de espaços. Porque não aproveitar um rochedo para adorar os deuses ao invés de erguer um mausoléu?
"Rafting", "trekking" e o estado asmático
Das actividades que fiz, destaco o "rafting". Rochedos cobertos em tons de verde esmeralda e alface num imenso pantanal balinês. Outra vez a cair o "Carmo e a Trindade", mas isso foi um bonus ao espectáculo natural.
Outro momento marcante foi a subida a um vulcão, durante um "trekking" noturno até ao romper o dia. Tivemos direito a café e panquecas de banana e conhecemos outros três viajantes. Tirando eu, a Sofia e a Maro, todos viajavam sozinhos. Fascinam-me as pessoas que viajam sozinhas. Eu prefiro ir acompanhada pela cumplicidade de bons compinchas.
A vista do topo deixou-nos em estado asmático, em oração com a mãe natureza por tamanha oferenda para os olhos. O trunfo do esforço físico, a recompensa de estar a pé desde as 2h00 manhã para assistir ao nascer de mais um dia. Cereja no topo do bolo foi o segundo pequeno-almoço (sandes de banana com café). Diz-se que a "descer todos os santos ajudam", mas ali também ajudavam os pedragulhos que escorregavam em cada passo mal calculado. Um dos guias locais teve o desplante de me dizer que se usasse as minhas pseudo-botas de "trekking" da Decathlon perdia o equilíbrio. Ele usava chinelos. Top. "Keep Calm. You´re in Bali".
Seguimos para Padang para apanhar um barco para as ilhas Gili. Três ilhas a uma hora de Bali. Depois de toda a estafa tudo o que apetecia era um barco cheio de turistas alcoolicamente alterados e de hormonas em riste." Keep Calm, you´re almost 28 and still in Bali".