Edward Snowden deve "rodear-se de advogados" e olhar por cima do ombro

Thomas Drake, antigo funcionário da NSA, foi acusado de passar informações confidenciais, mas acabou condenado por um delito menor. A sua vida, diz, ficou "virada do avesso".

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Edward Snowden chegou a Hong Kong no dia 20 de Maio DR

As palavras são de Thomas Drake, um antigo funcionário da Agência de Segurança Interna (NSA, na sigla original) que foi acusado, e mais tarde ilibado, de passar informações confidenciais a uma repórter do jornal The Baltimore Sun, em meados da década passada.

"Para mim, isto é déjà vu", diz Thomas Drake numa entrevista à agência Reuters, em que fala sobre o seu passado e sobre o futuro de Edward Snowden. "Quando passas informações sobre o lado negro da vigilância, eles não tratam as coisas com muita gentileza", avisa o antigo funcionário da NSA, lembrando a sua experiência pessoal.

"Eu sei o que é viver num Estado de vigilância, porque o Estado de vigilância esteve focado em mim durante muitos anos. É óbvio que eles queriam acabar comigo. Foram implacáveis. Não quero que nenhum americano passe por aquilo", diz Thomas Drake.

"Aquilo" começou em finais da década de 1990, quando a direcção da NSA adoptou o programa de espionagem de comunicações Trailblazer em detrimento de um outro programa, chamado ThinThread, que Thomas Drake considerava ser menos intrusivo para os cidadãos.

Mais tarde, entre Novembro de 2007 e Maio de 2011, viu-se acusado de divulgar informações confidenciais sobre o sistema de vigilância da NSA. A sua vida, diz, ficou "virada do avesso", ainda que o governo dos Estados Unidos tivesse acabado por desistir das acusações principais – Drake sempre afirmou que apenas falou com jornalistas sobre informações não confidenciais e ninguém conseguiu provar o contrário.

Dois anos depois de ter acordado do pesadelo, ainda ostenta marcas do confronto com a agência. "A minha vida foi destruída", afirma. Ganhou a batalha na justiça, mas perdeu as poupanças, o emprego na NSA e a reforma. De um salário superior a 150 mil dólares (113 mil euros) por ano em meados da década de 2000, passou para um trabalho como técnico de informática numa loja da Apple.

Thomas Drake não fica surpreendido com as revelações feitas por Edward Snowden. "O que estamos a ver é a continuação daquilo que foi feito em absoluto secretismo depois do 11 de Setembro. Esses programas foram lançados e simplesmente cresceram", afirma.

Na entrevista à agência Reuters, o antigo agente da NSA dirige-se a Snowden (que se instalou em Hong Kong no dia 20 de Maio e que está em local desconhecido desde segunda-feira) e diz-lhe que ele não tem muito por onde escolher: "Rodeia-te ao máximo de advogados e vai para um sítio que torne mais difícil a extradição. E toma sempre atenção às 18h, como costumávamos dizer quando eu era piloto na Força Aérea. Certifica-te sempre de que sabes quem está atrás de ti."

Mas quando é questionado sobre se terá valido a pena enfrentar a NSA, Drake não tem dúvidas: "A liberdade vale a pena? Não viver numa sociedade de vigilância vale a pena? Se não queres viver dessa forma, então tens de agir e defender os direitos e as liberdades que existem para evitar que isso aconteça."
 
 

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