A graça de "Antes do Amanhecer", onde tudo começou, estava na sua fugacidade. Um encontro que durava um instante, e ficava o sabor agridoce daquilo “que podia ter sido” a temperar a sensação galvanizante - porque as personagens eram muito jovens - de que ainda “podia ser muita coisa”. Era um flash, um fósforo, um relâmpago, só isto, e isto era tudo. Nesse sentido, qualquer das sequelas foi uma pequena traição ao primeiro filme. Até porque, sendo irrepetível o relâmpago (que como sabemos, não cai duas vezes no mesmo sítio), a série se transformou numa espécie de crónica “sociológica”, ou pelo menos geracional, a dar conta, tipo bilhete postal de nove em nove anos, de um qualquer suposto zeitgeist. É aí que a porca torce o rabo: a estratégia pressupõe que estas personagens, adultas, relativamente banais, nos interessem por aí além, e que haja qualquer coisa de particularmente estimulante nas suas visões do mundo e das relações amorosas. Não verdadeiramente. Ethan Hawke e Julie Delpy continuam a ter muita graça, Linklater é um realizador inteligente, mas era melhor pararem com isto antes que seja tarde demais.
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