Homem mata quatro pessoas num dia de violência nas ruas de Santa Mónica

Sexta-feira foi um dia de horror numa cidade no Sul da Califórnia. Um homem acabou morto no campus da faculdade depois de viajar pelas ruas a disparar. Ninguém sabe qual foi a sua motivação.

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Estima-se que morram anualmente nos EUA cerca de 30 mil pessoas em episódios de violência envolvendo armas de fogo

No final do dia de sexta-feira, os investigadores ainda estavam a tentar juntar as peças do puzzle dos incidentes que decorreram por volta do meio-dia entre Pico Boulevard e o campus da Faculdade de Santa Mónica. As autoridades ainda não divulgaram o nome do atirador ou das vítimas e recusaram-se ainda a explicar o que terá provocado tanta violência.

Durante horas, o campus manteve-se fechado, à medida que a polícia ia metodicamente passando revista aos edifícios, à procura de mais vítimas e de outros possíveis suspeitos. Numa conferência de imprensa feita depois do anoitecer, um responsável da polícia de Santa Mónica disse que os investigadores acreditavam que o atirador tinha agido sozinho. O porta-voz também corrigiu uma informação dada anteriormente pela polícia de que seis vítimas foram mortas e acrescentou que uma “pessoa de interesse” que tinha sido presa fora libertada por não estar envolvida no massacre.

Os primeiros sinais preocupantes aconteceram por volta das 11h50 (19h50 na hora de Portugal continental), quando se ouviram disparos nas avenidas de Kansas e Yorkshire, um bairro sossegado junto da auto-estrada de Santa Mónica. Jerry Cunningham-Rathmer, uma mulher que vive ali, viu o seu filho sair pela porta da casa uns minutos antes e correu para fora, com medo que ele tivesse sido atingido. Em vez disso, ao olhar para o lado de lá da rua, viu labaredas a sair de uma casa.

Um homem, à frente da casa em chamas, estava todo vestido de preto, tinha um cinto de munições à volta da cintura e uma grande espingarda nas mãos. “Ele parecia-se com um agente SWAT [unidade especial de segurança nos Estados Unidos]”, disse Jerry Cunningham-Rathmer, posteriormente, ao Los Angeles Times. Dentro da casa em chamas, os bombeiros iriam encontrar mais tarde dois corpos de homens. Fontes policiais, disseram que os homens eram Samir Zawahri, de 55 anos, proprietário da casa, e um dos seus filhos adultos. O segundo filho é o suspeito do tiroteio, adiantaram as mesmas fontes.

A cena seguinte foi observada por Cunningham-Rathner num estado de terror. A mulher conta que dois carros aproximaram-se e o homem apontou a arma ao primeiro carro, um Mazda, e gritou à condutora que parasse. Ao segundo carro, o atirador pediu que seguisse viagem, a mulher lá dentro hesitou e o homem abriu fogo ao carro, um Infiniti prateado. A mulher foi ligeiramente ferida.

Em direcção ao campus
A condutora do primeiro carro, Laura Sisk, de 41 anos, ficou gelada, disse mais tarde. Ela sabia que o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estava num encontro a poucos quilómetros da cidade e pensou, durante instantes, que o homem poderia ser um agente dos Serviços Secretos. Rapidamente percebeu que não era o caso. “Vais levar-me de carro até à Faculdade de Santa Mónica e deixas-me lá”, disse-lhe o homem, contou a condutora mais tarde. Laura Sisk implorou para ser ele a levar o carro. “Não. Tu guias”, respondeu-lhe.

Antes de se sentar ao lado de Sisk, o atirador disparou vários tiros sem nenhum alvo aparente. As autoridades diriam depois que a espingarda semiautomática utilizada era do “estilo AR-15”, de acordo com testemunhas.

Segundo Laura Sisk, o homem falou pouco durante a viagem até ao campus e estava calmo. A mulher contou que estava a chorar e o atirador tranquilizou-a. “Ele disse-me para eu me acalmar”, contou ela. “Disse que me deixaria ir se não fizesse nada de estúpido.”  

Pouco depois, o atirador deu uma saraivada de tiros contra um autocarro público começando na parte da frente até à parte de trás, e estilhaçando os vidros. Os passageiros atiraram-se ao chão, contou Marta Fagerstroem, uma estudante da Suécia, que estava no autocarro a estudar para um exame. Uma mulher que estava na fila de trás apanhou com uma bala na cabeça, disseram testemunhos. “Aconteceu tão rápido”, lembra Fagerstroem com a voz trémula. “Ninguém está à espera disto.” Depois de disparar contra o autocarro, o atirador disse a Laura Sisk para arrancar. “‘Em frente! Em frente! Em frente!’ E eu acelerei, acelerei, acelerei.”  

O carro continuou em direcção ao campus. No parque de estacionamento nas ruas Pearl e 20th, o atirador disparou contra duas pessoas que estavam num Ford Explorer, conta a polícia. O condutor morreu durante o disparo e o passageiro ficou gravemente ferido. Pouco depois, o homem ordenou a Sisk, para o deixar sair. Depois de abandonar o carro, Laura Sisk acelerou até ao final do quarteirão, saiu do carro e desatou a correr.

Nessa altura, os agentes da Polícia de Santa Mónica e a força policial da própria faculdade já tinham recebido várias chamadas 911 a avisá-los do que se passava. As chamadas foram recebidas com maior preocupação pelo facto de o Presidente Obama estar perto da cidade. As autoridades federais foram rapidamente postas ao corrente do que se passava.

Refugiado na biblioteca
Os polícias da faculdade interceptaram o atirador junto do campus e trocaram fogo com ele, disseram as autoridades. O homem fugiu para a biblioteca da escola, mas antes de entrar no edifício atirou contra uma mulher que estava no exterior e que acabou por morrer depois de chegar ao hospital.

Durante aqueles momentos, outras cinco pessoas ficaram feridas, duas delas com ferimentos graves. A biblioteca estava cheia de estudantes que se preparavam para os exames de final de ano. Lá dentro o homem disparou mais vezes. Ao ouvir os tiros, muitos estudantes, em pânico, fugiram do edifício ou esconderam-se nas salas debaixo das mesas.

Os polícias foram atrás do homem e acabaram por feri-lo. Trouxeram-no para fora do edifício onde ele acabou por morrer. A investigação levou a polícia a um apartamento em Centinela Avenue, em Los Angeles, onde o atirador terá vivido com a mãe, adiantam fontes.

Mike Denis, que vive no apartamento ao lado, foi questionado pela polícia sobre os dois. Ele descreveu a mulher como sendo “simpática” e o seu filho como sendo um homem “zangado”. Os registos do tribunal mostram que o dono da casa queimada divorciou-se de uma mulher chamada Randa Abdou, que agora vive na porta ao lado de Mykel Denis. “Ele tinha uma voz muito própria”, lembra Denis, 46 anos, referindo-se ao filho da senhora. “Era muito grave e forte. Ele era uma pessoa muito zangada”. Muitas vezes, acrescenta o vizinho, ouvia a voz do homem a atravessar as paredes a “gritar, berrar e a maldizer”.

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