Qual é a melhor série de televisão de sempre? Entre entusiastas, o melhor é não fazer esta pergunta. Pode gerar um debate virtualmente interminável e, em casos agudos, pode resultar em desprezos ou — pior — em condescendências. A Guilda dos Argumentistas da América (WGA, na sigla original) decidiu avançar na mesma para a polémica, embora um degrau abaixo: não elegeu a melhor, mas a série de televisão mais bem escrita de sempre — "Os Sopranos".
É uma boa solução de compromisso? Ainda que se possa considerar que sim, o mais provável é que o consenso estale assim que se comece a percorrer a lista de 101 títulos seleccionados. Não apenas pelas escolhas envolvidas, mas porque a WGA decidiu, por exemplo, incluir séries de televisão que ainda não terminaram. E se acabarem mal? Quem garante que "Mad Men" ou "Breaking Bad", respectivamente o sétimo e o 13.º da lista, mantém a qualidade actual? Refaz-se a lista ou oblitera-se o final (como a WGA fez com o segundo classificado, "Seinfeld", cujo episódio final, em 1998, fez torcer os narizes de maior parte da sua claque mundial)?
Este é um artigo cheio de perguntas. A próxima é: com mais de seis décadas de história de ficção televisiva, as séries mais recentes, as que ocuparam as grelhas nos anos mais recentes, deveriam ter tanto espaço? E o distanciamento crítico? Depois, claro, há as ausências: onde pára "Anjos na América"? E "The Walking Dead"? Há mais, muitas mais. No entanto, continuar nestas pequenas perguntas significa evitar o verdadeiro problema — a ordem da lista. Aí é que a discussão se acende.
O número um é "Os Sopranos". Seguem-se "Seinfeld", "The Twilight Zone" (em Portugal, "Quinta Dimensão"), "All In The Family" ("Uma Família às Direitas", cuja "Edith" morreu na sexta-feira, aos 90 anos), "M*A*S*H", "The Mary Tyler Moore Show", "Mad Men", "Cheers" ("Cheers, Aquele Bar"), "The Wire" e "The West Wing" ("Os Homens do Presidente"). São os dez primeiros classificados. Poucos lugares abaixo, está a recuperada "Arrested Development" ("De Mal a Pior"), que, depois de ter sido cancelada pela Fox em 2006, estreou nova temporada no final do mês passado através do Netflix.
Uma dedicatória aos argumentistas
O "Los Angeles Times" escreve que este serviço norte-americano de "video on demand", que disponibiliza aos seus clientes muitas destas séries, está entre os grandes beneficiários da lista. Os canais de televisão por cabo, também. Mas sobretudo as estações que se dedicam a produzir este tipo de conteúdos, como a HBO (que consegue ter 11 títulos no ranking), a AMC, a NBC, a CBS ou a ABC. E é ainda uma rampa de lançamento para os Emmy, os principais prémios norte-americanos de televisão, que acontecem a 22 de Setembro.
Com maiores ou menores aspirações aos Emmy, são 17 os títulos escolhidos pelos membros da WGA que ainda estão no ar: "Mad Men", "Breaking Bad" ("Ruptura Total", em 13.º), "Arrested Development" (16.º), "The Daily Show" (17.º), "Curb Your Enthusiasm" ("Tem Calma, Larry", 30.º), "Modern Family" ("Uma Família Muito Moderna", 34.º), "Game of Thrones" ("A Guerra dos Tronos", 40.º), "Downton Abbey" (43.º), "Homeland" ("Segurança Nacional", 48.º), "The Good Wife" (50.º), "The Colbert Report" (51.º), "Sesame Street" ("Rua Sésamo", 56.º), "South Park" (64.º), "Dexter" (67.º), "Justified" (87.º), "Boardwalk Empire" (93.º) e "Louie" (99.º).
Os membros da WGA podiam votar em qualquer série de língua inglesa, independentemente da sua antiguidade, desde que tivessem sido emitidas nos Estados Unidos e tivessem mais de seis horas. Cada argumentista associado podia eleger 20 títulos, em qualquer género — drama, comédia, mini-série, animação, programa infanto-juvenil ou "talk-show". Foram nomeados centenas de títulos, que uma organização independente compilou numa lista inédita com o selo da WGA.
O resultado foi revelado neste domingo à noite, em Beverly Hills, Los Angeles. Num comunicado conjunto, os dois presidentes da WGA, Chris Keyser (costa Oste) e Michael Winship (costa Leste), lembraram que, “na essência, todas estas maravilhosas séries começaram com as palavras dos argumentistas que as criaram”. “Isto não é apenas uma homenagem à boa televisão, é uma dedicatória a todos os argumentistas que se dedicam de alma e coração para fazer avançar o seu ofício.”