Planeta extra-solar apanhado em imagens directas
É um ponto luminoso a 300 anos-luz de distância da Terra, captado pelo telescópio VLT, no Chile.
Apesar de já se terem descoberto quase 1000 planetas extra-solares – o primeiro foi em 1995, pela equipa dos suíços Michel Mayor e Didier Queloz –, a maior parte deles foi descoberta utilizando métodos indirectos. Um é o método das velocidades radiais (detecta pequenas oscilações periódicas no movimento de uma estrela devido à presença de um planeta em seu redor), o outro é o dos trânsitos (detecta pequenas variações periódicas no brilho de uma estrela devido à passagem pela sua frente de um planeta). Até agora, apenas 12 planetas extra-solares, ou exoplanetas, tiveram imagens suas directamente captadas, ainda que se resumam a pontinhos de luz muito esbatidos.
É o caso agora de um planeta observado com Very Large Telescope (VLT), que o Observatório Europeu do Sul tem no Chile, no Monte Paranal. O planeta aparece como um ponto ténue mas bem definido, próximo de uma estrela brilhante, a HD 95086. “Pode ser o planeta com menos massa a ser observado de forma directa fora do sistema solar”, refere o ESO.
“Obter imagens directas de planetas é um desafio técnico extremamente grande, que requer os instrumentos mais avançados, seja no solo, seja no espaço”, diz Julien Rameau, do Instituto de Planetologia e Astrofísica, em Grenoble, que assina à cabeça o artigo sobre a descoberta a publicar na revista Astrophysical Journal Letters. “Até agora, poucos planetas foram observados directamente, o que faz de cada descoberta um marco importante no caminho para compreender os planetas gigantes e como se formam”, acrescenta Julien Rameau, num comunicado do ESO.
Para apanhar directamente o planeta, a equipa utilizou o NACO – um instrumento de óptica adaptativa, que permite remover grande parte das perturbações causadas pela atmosfera e obter imagens nítidas – e, depois disso, processou as observações com uma técnica chamada “imagem diferencial”, que permite melhorar o contraste da luminosidade entre o planeta e a estrela.
As observações mostraram ainda que o ponto ténue do planeta – chamado HD 95086 b – se movia lentamente com a sua estrela através do céu, o que sugere que anda à volta da estrela, localizada a 300 anos-luz da Terra. Pela luminosidade do planeta, os cientistas estimam que tenha uma massa correspondente a apenas quatro a cinco vezes a massa de Júpiter.
O planeta não está perto da estrela, mas a uma distância que equivale a duas vezes a que separa Neptuno do Sol. A estrela HD 95086 é muito jovem, tem apenas 10 a 17 milhões de anos e um pouco mais massa do que o nosso Sol, que nasceu há cerca de 5000 milhões. Como a estrela HD 95086 é tão jovem, os astrofísicos pensam que o planeta se formou no interior do disco de gases e poeiras que a circunda.
“A sua localização actual levanta questões sobre o seu processo de formação. Ou cresceu através da junção de rochas que formam o núcleo sólido e depois foi lentamente acumulando gases do ambiente para formar a atmosfera pesada ou começou a formar-se a partir de um aglomerado de gases que surgiram no disco devido a instabilidades gravitacionais”, explica outro elemento da equipa, Anne-Marie Lagrange, citada no comunicado. “Interacções do planeta com o disco ou com outros planetas podem também ter deslocado o planeta do local onde nasceu.”
Utilizando a luminosidade da estrela, a equipa estimou ainda a temperatura à superfície do planeta: terá à volta de 700 graus Celsius. “Isto é suficientemente frio para que haja vapor de água e possivelmente metano na sua atmosfera.”
Ora a água é um elemento considerado essencial à vida – e essa descoberta, a de um outro planeta, algures na imensidão do Universo, a fervilhar de vida, é o grande sonho de muita gente.