O Médio Oriente está a construir uma grande máquina de raios X
Radiação permitirá estudar em detalhe materiais, células humanas, vírus, proteínas, conseguindo chegar até ao nível dos átomos.
Está a ser construído por uma organização intergovernamental, que reúne cientistas e vários governos da região: do Bahrein, Chipre, Egipto, Irão, Israel, Jordânia, Paquistão, Autoridade Palestiniana e Turquia. Será o primeiro grande centro de investigação internacional do Médio Oriente.
Inspira-se no modelo do próprio CERN, criado em 1954 por 12 países no rescaldo da II Guerra Mundial, num contexto em que os países da Europa não podiam financiar sozinhos os dispendiosos instrumentos para a investigação e viam os seus físicos e outros cientistas emigrar para os Estados Unidos. Actualmente, o CERN tem 20 países-membros e é o maior laboratório de física de partículas do mundo, com o seu gigantesco acelerador de partículas na zona de Genebra, atravessando a fronteira franco-suíça.
Desenvolvido sob os auspícios da UNESCO, tal como o CERN, o sincrotrão do Médio Oriente chama-se SESAME – a sigla inglesa de Synchrotron-light for Experimental Science and Applications in the Middle East – e, como o nome indica, destina-se a utilizar esta radiação em investigação científica. Permitirá, por exemplo, estudar as propriedades de novos materiais, processos biológicos e artefactos arqueológicos. Além da estrutura de novos materiais, esta radiação permite ver em detalhe células humanas, vírus, proteínas, conseguindo chegar até ao nível dos átomos. E, para lá dos objectivos científicos, o projecto pretende promover a paz na região através da cooperação científica, juntando países como o Irão e Israel.
Na Europa, a maior infra-estrutura deste tipo, o Laboratório Europeu de Radiações Sincrotrão (ou European Synchrotron Radiation Facility), em Grenoble, França, tem 20 países-membros e associados, incluindo Portugal, e só rivaliza com duas outras instalações, uma nos Estados Unidos e outra no Japão.
Agora, o SESAME, segundo o acordo anunciado esta segunda-feira, vai receber cinco milhões de euros da Comissão Europeia, o que permitirá que o CERN forneça ao projecto ímanes para um novo anel de armazenamento de electrões, o coração do sincrotrão. A Comissão Europeia já tinha contribuído com mais de três milhões de euros. Outras instituições têm ajudado a construir o projecto, como o sincrotrão de Berlim, que na verdade terá partes do seu próprio equipamento colocado no SESAME.
Até ao momento, cerca de 38,8 milhões de euros já foram investidos no projecto, refere a revista Science no seu site. Além das contribuições distribuídas por cada um dos nove membros do SESAME, quatro países – Irão, Israel, Jordânia e Turquia – já contribuíram com 3,8 milhões de euros adicionais. Para que o sincrotrão entre em funcionamento em 2015, refere ainda a Science, são necessários mais 7,7 milhões de euros.
“O SESAME não só permitirá aos investigadores da região terem acesso a instalações de ponta, como chamará a atenção para os grandes progressos que podem ser realizados na região num espírito de cooperação pacífica”, sublinhou a comissária europeia para a área da ciência, Máire Geoghegan-Quinn, num comunicado conjunto da Comissão Europeia e do CERN. “O SESAME é actualmente um dos projectos mais importantes em todo o mundo. Tendo em conta as suas analogias com as origens do CERN, fico muito contente por podermos dar este contributo importante para o sucesso do jovem laboratório”, referiu por sua vez o director-geral do CERN, Rolf Heuer.
Notícia actualizada às 11h08 de29/05/2013