Os meus pais não são gays
Uma criança só quer amor. Não lhes interessa se é de um homem ou uma mulher. O importante é mesmo ser amado. É ter alguém que lhes oriente para a vida
Para começar devo deixar bem claro que sou um indivíduo instável emocionalmente. Algo que, verdade seja dita, não deve estranhar a quem lê os meus artigos. Além disso defendo coisas incrivelmente absurdas como a liberalização das drogas, do aborto ou da adopção de crianças por quem quer que seja independentemente das suas orientações sexuais.
Tenho amigos homossexuais. Pior, e como se ainda isso não bastasse — como portuense —, sou um apaixonado pelo Sport Lisboa e Benfica (já agora os parabéns à malta do Futebol Clube do Porto por mais um campeonato). Ou seja, tenho sérios problemas ao nível do foro psicológico.
A culpa, essa, é dos meus pais. Eles são, segundo os muitos psiquiatras e psicólogos que tenho consultado, a causa para todos os meus distúrbios mentais. Tudo porque são heterossexuais.
Como vocês também eu fiquei confuso. Vou tentar explicar de forma simples o porquê.
Pelos vistos o facto de, até à fase adulta, a minha mãe me ter dado demasiado carinho — abraços constantes, beijos e elogios à minha pessoa (físicos e intelectuais) — era visto por mim como uma espécie de “sedução”. Achava eu, na confusão dos meus pensamentos, que ela tinha segundas intenções. Coitado de mim…
Depois era a cena com o meu pai. Muitas actividades físicas (agricultura e desporto) com suor à mistura. Gajos em tronco nu a despejarem água pelo corpo… Mas o verdadeiro pânico era quando ele entrava na casa-de-banho como a vida o trouxe ao mundo. Felizmente nunca foi homem de muitos abraços. O que me deixava mais aliviado. Agora penso de outra forma…
Para concluir, a resposta de um psiquiatra de renome internacional: “Pá, Jorge, se tivesses sido criado por um casal de gays eras uma pessoa perfeitamente normal (quero dizer gajos e gajas)”. E eu: “Ora então porquê?”. E diz-me ele: “Não é óbvio? Eles e elas já o fazem uns com os outros. Não têm dúvidas. E sabem que se forem demasiado afectuosos com uma criança o mundo lhes cai em cima. Logo controlam as suas emoções (não o deveriam fazer). Ou seja, nunca terias estes problemas. Não te parece lógico?”.
Não. Claro que não. Até me soa a pura estupidez.
E agora falando a sério. Uma criança só quer amor. Não lhes interessa se é de um homem ou uma mulher. O importante é mesmo ser amado. É ter alguém que lhes oriente para a vida. Que os faça perceber qual a diferença entre bem e mal. Que os ensine a ser uma boa pessoa. A respeitar os outros. A ser íntegro. A amar. A ser correcto. Os meus pais fizeram isso. Mas se ambos fossem homem ou mulher fariam o mesmo. Não tenho dúvidas disso.
O que realmente importa é o amor que se dá e a educação. É o criar as condições para que uma criança cresça saudável e feliz. A parte da sexualidade só vem depois. E é sempre detalhe.
Eu não sei qual é a história de pessoas como a Isabel Pegado, a Maria Teresa Alves e muitos outros da mesma corrente ideológica. Mas incomoda-me a opinião desta gente. Tanto mais quando estão sempre a falar dos países do Norte da Europa como um exemplo a seguir em termos democráticos, económicos e sociais. Mas será que eles alguma vez pensaram que aqui se copula livremente, aborta e se é LGBT sem problema? Que se tem filhos ou se adoptam crianças independentemente do género? Ou só algumas coisas dos ditos países “desenvolvidos” é que interessam?
Ou são eles, como algumas pessoas que conheço, defensores daquele ditado do “olha para o que digo e não para o que faço?”. Pessoas, essas, que votaram contra a Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez apesar de terem filhas e filhos que realmente abortaram. Tudo, diziam eles, porque era escolha dos miúdos e não a “nossa convicção”. Mas pagaram e o resto é treta.
Resumindo: hipocrisia. Mas é disso que o nosso Portugal social ainda vive. Ainda estamos muito presos à moralidade do antigo regime. Uma pena.
A terminar duas questões para quem tem dúvidas sobre escolhas sexuais: os gays nascem de onde? São todos filhos de homossexuais?