“Factores irrepetíveis” dão lucro de 41 milhões à RTP

Mas em caixa “não há dinheiro”, avisa o presidente Alberto da Ponte, que continua a admitir a possibilidade de fazer um despedimento colectivo lá para o Verão.

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Alberto da Ponte diz que a RTP não tem dinheiro em caixa Adriano Miranda

Apurado o resultado líquido estrutural, sem esses resultados extraordinários, o grupo de serviço público de rádio e televisão encerraria o ano com um prejuízo de 200 mil euros.

Os resultados de 41,4 milhões – acima do esperado, admite a RTP - foram conseguidos através da inclusão nas contas de 37,9 milhões de euros da aplicação financeira Eurogreen (que tem um contrato de swap associado) e de 11 milhões de euros de subsídios de férias e de Natal que foram suspensos no ano passado pelo orçamento do Estado . Por outro lado, foi preciso retirar da contabilização os 7,4 milhões de euros que tinham sido provisionados no orçamento de 2012 para rescisões que acabaram por não se fazer.

“Os resultados são positivos no papel, mas os resultados reais, estruturais, são de 200 mil euros negativos. São três itens extraordinários, que não se voltarão a repetir”, enfatizou o presidente da administração, Alberto da Ponte, durante a apresentação das contas, nesta quarta-feira à tarde.

Em resposta à Comissão de Trabalhadores, que já disse o facto de registar lucros impede a empresa de recorrer ao despedimento colectivo, o presidente afirmou que há uma grande “confusão” nos argumentos apresentados. “Não tivemos resultados de caixa que permitam excedente”, disse, acrescentando que, na realidade, “não há dinheiro”.

Do lado das receitas, aos 46,3 milhões de euros das receitas comerciais (sobretudo publicidade) somam-se 137,8 milhões da contribuição para o audiovisual e 73,2 milhões da indemnização compensatória (já sem IVA). Os 257 milhões de euros de receitas representam uma redução de cerca de 20% em relação ao ano de 2011.

Do lado das despesas, a RTP registou gastos operacionais de 240 milhões de euros, representando uma poupança de 22% em relação a 2011. Foi possível reduzir os custos de grelha em 8%, de 105,4 milhões de euros para 96,6 milhões – um esforço que será para manter, assegurou Alberto da Ponte. Os 78,7 milhões de euros de gastos com pessoal ficaram 29,4 milhões abaixo do ano anterior devido ao não pagamento dos subsídios de férias e de Natal. Já os fornecimentos e serviços externos foram cortados em 16%, tendo custado em 2012 39,9 milhões de euros. Também aqui a ordem é para cortar, avisa Alberto da Ponte.

Apesar destes resultados, Alberto da Ponte não afasta a hipótese de recorrer a um despedimento colectivo para baixar os custos com pessoal e cumprir os objectivos do Plano de Desenvolvimento e Redimensionamento da empresa. O presidente da RTP anunciou que tem já 242 candidaturas às rescisões amigáveis e a administradora Luiana Nunes especificou que a empresa tenciona dar o processo por terminado até à terceira semana de Junho. Será nessa altura que a administração decidirá se avança ou não para o despedimento colectivo. Porque esse passo, vincou Alberto da Ponte, será dado apenas em último caso, quando a sua equipa já tiver reduzido, em todas as áreas, tudo o que for possível reduzir. Estão provisionados 15 milhões de euros para este ano para as rescisões, acrescentou.

Alberto da Ponte recusou que a empresa tencione cortar 600 dos 2025 postos de trabalho que tem agora. O presidente disse que embora não haja qualquer meta no número de pessoas, considerou os 240 “um número razoável” e até “poderá ter excedido” as suas expectativas. “Um número ambicioso seria na ordem dos 300”, especificou.
Prejuízos de nove milhões com quebra de audiências da GfK

Alberto da Ponte também se referiu à “quebra abrupta” das audiências da RTP desde a entrada em vigor do novo sistema de medição de audiências da GfK, em Março do ano passado. Só entre Fevereiro e Março de 2012 a RTP caiu cerca de 6,5 pontos e nunca mais a estação voltou a médias que então rondavam pelo menos os 25%. Não contando com a quebra do mercado publicitário, a RTP perdeu nove milhões de euros, estima o presidente.

A RTP, a par da TVI, anunciou há semanas o corte de relações com a CAEM – Comissão de Análise e Estudo de Meios, que recusou uma análise técnica ao painel da GfK. Alberto da Ponte garante que não tenciona restabelecer o vínculo à CAEM e está disposto a esperar até 15 de Junho por uma decisão de se fazer uma auditoria à GfK. Depois disso, não está fechada a porta a uma acção judicial.

Ainda este ano vai a meio e já a RTP se debate com problemas de desvio ao orçamento. Por exemplo, a decisão do Tribunal Constitucional de este ano não poder ser cortado um dos subsídios aos funcionários públicos obrigará a empresa a encontrar seis milhões de euros adicionais. Alberto da Ponte não descarta a hipótese de pedir essa verba ao Estado, mas por enquanto está a tentar encontrá-la também através de reduções de custos.

 

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