Austrália vai matar 10.000 cavalos selvagens
Plano motiva protestos, mas autoridades dizem que os animais estão a morrer de fome e de sede, aos milhares.
Os animais estão a sofrer as consequências do seu aumento populacional descontrolado, numa das áreas mais remotas e desabitadas da Austrália, no Centro do país.
Há cerca de duas semanas, o Conselho das Terras do Centro, um órgão que reúne as populações aborígenes da região, divulgou fotos dramáticas de cavalos, e também de burros e camelos, mortos ou moribundos junto a fontes de água.
Segundo o Conselho, os animais não só estão a morrer lentamente, aos milhares, de fome e de sede, como os cadáveres estão a poluir o solo e a água, o que pode ter consequências para outras espécies. “A destruição dos poços, em particular, tem um efeito profundo sobre os animais nativos”, disse David Ross, director do órgão representativo dos aborígenes, num comunicado divulgado junto com as fotos.
“Ninguém quer vê-los sofrer, especialmente os donos das terras, que amam os seus cavalos mas estão conscientes das consequências terríveis das populações sem controlo”, completou Ross.
A área mais problemática fica perto do Kings Canyon, a 300 quilómetros da cidade de Alice Springs, com 28.000 habitantes.
Os animais serão abatidos a tiro, a partir de helicópteros. É a forma mais eficaz de se proceder ao controlo populacional, segundo as autoridades. Não só os acessos na inóspita região são extremamente difíceis, como seria impraticável cercar os cavalos e transportá-los para o matadouro mais próximo, que está a 1500 quilómetros de distância.
O comunicado não esclarece o que será feito com os animais abatidos.
O plano terá tido início nesta quarta-feira, mas com protestos. Os cavalos selvagens são descendentes da raça Waler, que foi introduzida na Austrália no final do século XVIII. Durante cerca de 100 anos, os cavalos foram criados para abastecer as fileiras do Exército britânico na Índia. Também foram utilizados nas duas guerras mundiais.
A Associação Australiana para o Cavalo Waler lançou uma petição contra o programa agora lançado, classificando-o como “desumano”. A organização reconhece que é preciso fazer algo para controlar a população daqueles animais, incluindo abates selectivos. Mas defende outras medidas, como investir em cercas junto das fontes de água ou dar formação às populações locais para controlarem melhor a população de cavalos.
Nos casos em que for necessário matar animais, a associação sugere que os cavalos sejam reunidos e abatidos com outros métodos, que não a perseguição por helicópteros. Segundo a petição, o programa de abate que agora está a ser lançado custará entre 150 e 300 euros por cada animal.
Matar animais para controlar a sobrepopulação não é uma medida incomum. Entre 1994 e 1996, milhares de gaivotas das Berlengas, em Portugal, foram alvo de um programa de abate, por envenenamento. As gaivotas, que nidificam naquela ilha, eram a principal causa do declínio do airo, uma ave que se parece com um pinguim e que já foi abundante nas Berlengas.