Em 2009, Helena Canhoto passou quatro meses em Cuba e conheceu as casas cubanas “e o verdadeiro povo que as habita”. “Vivi as suas histórias e bebi os seus cafés”, conta, por e-mail, ao P3. Quando regressou a Portugal não conseguiu esquecer aquele país. “Tinha uma vontade incontornável de querer filmar, pelo menos, um pouco do que vivi.”
Assim que conseguiu, Helena, de 27 anos, voltou a Cuba para contar um episódio da história cubana que há muito a interessava: o Período Especial, vivido após o fim da União Soviética. Em Junho de 2012, “com uma câmara na mão e um microfone ligado ao iPhone”, filmou “Período especial — o fim que não acaba”.
“O que mais me irrita no sistema é que detrás de uma escrivaninha há um burocrata, seja militar ou civil, que decide o teu destino (...) sem sequer te conhecer”, diz um dos entrevistados do primeiro documentário desta jovem natural do Porto. “Período especial” são 30 minutos de depoimentos “conseguidos à revelia do sistema, imagens únicas da perspectiva de quem vive a actualidade cubana, na primeira pessoa”, descreve.
Alguns dos testemunhos são de contra-revolucionários assumidos e ex-diplomatas constantemente vigiados pela polícia política, pelo que Helena vê este seu trabalho como “um filme que desvenda verdades sobre um assunto ainda proibido nesse país”.
“Período especial” no DocLisboa
Em 2012, na segunda visita a Havana, Helena foi “muito mais preparada”, com “mais medicamentos e outros bens necessários altamente difíceis de encontrar”. Mas as maiores dificuldades não foram previstas “com uma bagagem bem planeada”: ficou chocada com as condições dos hospitais, por exemplo, onde chegou a ver cães vadios na maternidade.
Como queria voltar a viver na cidade, Helena hospedou-se em casa de uma amiga cubana, onde teve de tomar banho com “baldes de água fria para lavar o corpo sujo de petróleo dos táxis comunitários”. Mas, “além de pragas de escaravelhos e outras surpresas desse género”, não passou dificuldades: encontrou sempre água potável para beber, sabão, feijão e café. “Não viajei com a intenção de conhecer os restaurantes para estrangeiros ou de gastar dinheiro em turismo”, esclarece.
O documentário, que ainda não foi exibido publicamente, vai ser enviado para festivais, o primeiro dos quais o DocLisboa. “Até agora, as pessoas só viram o trailer e ficaram muito curiosas. Espero que o trailer não seja melhor do que o filme”, brinca.
Depois de ter estudado em Lisboa, Cuba e Nova Iorque, Helena vive, agora, em São Paulo, onde trabalha como directora de produção na Colisão Filmes. Esta produtora brasileira vai gravar o seu primeiro filme de ficção em Lisboa, já no mês de Agosto, com o apoio da Malagueta Produções.