Filhos de homossexuais são crianças como as outras

APF diz que a adopção “é muito importante para as pessoas homossexuais, mas também para o funcionamento democrático, de cidadania e moral da sociedade portuguesa"

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Maxim Shemetov/Reuters

O secretário-geral da Associação para o Planeamento da Família (APF) apoia o direito dos homossexuais a adoptarem e a terem crianças e afirma que a ciência diz que os filhos de pais homossexuais são como os outros. “O que a ciência diz é que as crianças de pais homossexuais são crianças como as outras e não há nenhuma prova científica que possam sofrer” com isso, disse Duarte Vilar, em entrevista à agência Lusa.

 

A propósito da discussão de vários projectos de lei sobre as famílias de casais homossexuais - entre os quais a possibilidade destes adoptarem crianças e recorrerem à Procriação Medicamente Assistida (PMA) - Duarte Vilar afirmou que “hoje em dia há um consenso científico sobre esta matéria da parentalidade homossexual, a qual sempre existiu, embora não tão explícita”.

 

“A APF tem uma posição muito clara em relação à igualdade de oportunidades e à não discriminação de pessoas devido à sua orientação sexual e apoiámos, não só a possibilidade de casamento de pessoas do mesmo sexo, como também a possibilidade desses adotarem crianças e de recorrerem à PMA em nome da igualdade de direitos, da não discriminação e em nome do que a ciência diz”, adiantou.

 

Figuras de referência

Segundo Duarte Vilar, “há muito a ideia de que as crianças têm de ter um pai e uma mãe como modelos para fazerem a sua identidade de género e a sua identidade sexual, mas houve milhões de crianças que cresceram em famílias só de mulheres e algumas só de homens”. “Como nós formamos a nossa maneira de nos vermos como homens ou mulheres não tem a ver só com a nossa mãe ou pai, se eles existirem, e em muitos casos até não existem. Acabamos por ter figuras de referência que nos ajudam a formar a nossa identidade de género”, adiantou.

 

Duarte Vilar considera que a sociedade portuguesa está preparada para o debate, embora não imagine qual será o seu resultado. A este propósito, recordou que, em 2010, aquando da discussão da lei sobre os casamentos homossexuais, “o que esteve em causa era a discussão da palavra casamento”.

 

“Os que se opunham achavam que o casamento é, por definição, heterossexual. Este debate mostrou que houve um enorme avanço na sociedade portuguesa na maneira como vêem a homossexualidade”, contou. A este propósito, considerou que “as pessoas aceitaram de uma forma muito clara que existem pessoas do mesmo sexo que vivem umas com as outras, que se amam, que têm relações de casal, relações sexuais, e não podem ser discriminadas por causa disso”.

 

“Esta aceitação que existiu da conjugalidade homossexual e das relações homossexuais talvez se estenda à questão da adopção, embora nós saibamos que existem pessoas que aceitam o casamento, mas têm algumas dúvidas em relação à adopção”, adiantou. Duarte Vilar não duvida da importância do debate: “É muito importante para as pessoas homossexuais, mas também para o funcionamento democrático, de cidadania e moral da sociedade portuguesa. Vai-nos ajudar a compreender as questões dos direitos humanos, da não discriminação e da cidadania”.