Ricardo Woods foi condenado com piscares de olhos e pode ficar na cadeia para sempre

Vítima ficou paralisada e morreu duas semanas depois do ataque, mas conseguiu piscar três vezes os olhos quando lhe foi mostrada uma fotografia de Woods.

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A defesa alega que não há provas contra Ricardo Woods DR

No dia 28 de Outubro de 2010, David Chandler seguia no seu automóvel quando foi atingido com dois tiros, um na cabeça e outro no pescoço. Ficou paralisado, impedido de falar e acabou por morrer no hospital. Mas nas duas semanas em que sobreviveu, foi respondendo a perguntas da polícia através de piscares de olhos. A uma delas – "Foi este o homem que disparou contra si?" –, Chandler respondeu com três piscares de olhos "claros, intencionais e decididos", segundo a acusação. Como resultado, o principal suspeito, Ricardo Woods, foi considerado culpado e espera agora pelo dia 20 de Junho para saber se vai ser condenado a prisão perpétua.

A decisão chegou ao fim de três dias de julgamento, que decorreu no tribunal do condado de Hamilton, no estado do Ohio. À saída, Woods, de 35 anos, dirigiu-se aos jornalistas e declarou-se inocente, mas não esboçou qualquer reacção enquanto ouviu a juíza Beth Myers a pronunciar a decisão final, segundo o relato da Associated Press.

A defesa de Ricardo Woods não queria que o júri visse a gravação em vídeo das perguntas que a polícia fez a David Chandler, mas a juíza não se opôs e as imagens foram analisadas em tribunal na quinta-feira.

Apesar das objecções da defesa, a juíza Beth Myers considerou que David Chandler identificou o suspeito com "um movimento ocular pronunciado e exagerado". A esta interpretação da juíza somou-se o depoimento de um dos médicos que acompanhou a vítima, para quem Chandler foi capaz de comunicar "com clareza" durante o tempo em que esteve internado. Contra ele Ricardo Woods tinha também o testemunho de um informador, que disse ter ouvido a sua confissão na cadeia.

Os advogados de defesa mostraram-se "desiludidos com o veredicto" e já anunciaram que vão recorrer. Alegam que Woods é vítima de um erro de identificação e sublinham a inexistência de ADN, impressões digitais ou sequer de uma arma que ligue o seu cliente ao crime. "Sempre dissemos que o vídeo não deveria ter sido aceite como prova", disse o advogado Kory Jackson. Mas a procuradora assistente Jocelyn Chess congratulou-se com o desfecho do caso: "Eles analisaram todas as provas disponíveis, e todas as provas mostravam que Ricardo Woods é culpado."

Além da alegada inexistência de provas, a defesa alega também que o estado em que David Chandler se encontrava quando foi questionado pela polícia – paralisado e sob o efeito de medicamentos – influenciou a sua capacidade de perceber as perguntas e de responder com clareza. Ao longo dos 17 minutos de vídeo, David Chandler luta para responder a algumas perguntas, não sendo sempre claro o número de vezes que pisca os olhos, mas quando vê a fotografia de Ricardo Woods parece ter poucas dúvidas: pisca três vezes e repete a reacção quando os agentes procuram uma confirmação.

Os advogados de defesa contestam também a validade da identificação, por considerá-la "sugestiva", já que a polícia só mostrou a fotografia de Ricardo Woods a David Chandler.

Também a credibilidade do informador é posta em causa pela defesa. Segundo o seu testemunho, Woods ter-lhe-á dito que matou David Chandler porque este lhe devia dinheiro de uma venda de droga, mas os advogados alegam que o informador apenas queria obter uma redução da sua condenação por roubo. A equipa que defendeu Ricardo Woods em tribunal traçou também um perfil pouco abonatório da vítima: Chandler teria roubado droga a traficantes de rua, era considerado um "bufo" pela polícia e tinha muitos inimigos.
 
 
 

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