Alunos do secundário vencem concurso Pordata com trabalhos sobre assimetrias regionais e pobreza
Alunos do 11.º ano de escolas de Vale de Cambra e Cantanhede foram escolhidos entre os 50 projectos que este ano concorreram.
João Carlos Muacho, Luciana Vasconcelos e Tiago Rocha, alunos do 11.º ano, orientados pelo professor de Geografia Adelino Pinho na Escola Básica 2,3/S de Vale de Cambra, foram escolhidos pelo trabalho em vídeo Estranhos Ímpares. Ao longo de oito minutos, dados encontrados no site da Pordata foram utilizados para “confirmar de que forma as assimetrias regionais condicionam a vida dos nossos concidadãos”.
Um dos objectivos do concurso Pordata-RBE, uma parceria entre a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Rede de Bibliotecas Escolares que vai na terceira edição, é desafiar os estudantes das escolas públicas e privadas do país a realizarem trabalhos onde as estatísticas disponíveis no site sobre Portugal, Europa, regiões e municípios sirvam de ponto de partida. Mas o objectivo principal da iniciativa é “levar a informação, isenta, oficial e rigorosa até às escolas”. Isto porque os estabelecimentos de ensino que queiram participar no concurso podem ainda receber acções de formação do Pordata sobre como explorar os milhares de dados existentes. Nos três anos de concurso, as escolas seleccionam um único trabalho para concorrer. No total, foram entregues 150 trabalhos em três anos. Para a edição deste ano concorreram perto de meia centena.
Juventude no litoral
“De acordo com o resultado do Censos 2011, cerca de 50% da população nacional concentra-se em 33 municípios do país”. O dado é do Instituto Nacional de Estatísticas, de Março de 2012, e é uma das primeiras informações avançadas no trabalho Estranhos Ímpares.
Através da comparação de dados sobre a densidade populacional, taxa de natalidade, índice de envelhecimento, poder de compra ou acesso à saúde e à educação, os alunos de Vale de Cambra falam das diferentes realidades nacionais através de dez municípios, divididos entre o litoral e o interior. Concluem que “no litoral, concentra-se a juventude, o dinamismo, a força do laboro e o espírito de iniciativa”. “Por sua vez no interior, sobejam os velhos”.
Aos três alunos do secundário parece ainda ser clara outra conclusão. "O muito que se fez ao longo de décadas não têm chegado. As diferenças ainda não foram esbatidas. Há mais caminhos por percorrer, apostas por fazer. Ainda não está esgotado o investimento nas energias renováveis. Ainda não se potencializou o património local, construído e paisagístico”.
A “grande preocupação na definição de conceitos, identificação de anos, indicadores e fontes” determinou que este fosse um dos trabalhos vencedores, escolhidos pelo júri formado por Bernardo Gaivão, da Pordata, Maria João Valente Rosa, em representação da Fundação, e Maria Toscano, da RBE.
Escolaridade combate a pobreza
Do Agrupamento de Escolas Finisterra de Cantanhede chegou o segundo vencedor desta edição. Assinado pela alunas Ana Filipa Oliveira e Maria Inês Simões, sob a orientação dos professores de Economia José Ferreira e de Filosofia Isabel Bernardo, A pobreza em Portugal foi distinguido pelo “grande rigor na análise da informação e imparcialidade na elaboração de hipóteses explicativas”.
As duas alunas, também do 11.º ano, estabelecem uma relação entre dados sobre a população residente por nível de escolaridade com a taxa de abandono precoce de educação e formação. Passam depois para a questão do desemprego e escrevem que "em Portugal, a taxa de desemprego disparou nos últimos três anos, atingindo valores recorde, tendo a média anual em 2012 sido de 15,7%”.
Ana Filipa e Maria Inês comparam ainda estes dados com o nível de escolaridade completa e os rendimentos e condições de vida. Há ainda lugar para a análise de estatísticas sobre a desigualdade na distribuição do rendimento, o limiar de risco de pobreza e a taxa e risco de pobreza. Segue-se uma das questões essenciais do trabalho: “Será que o Estado português e a UE têm obrigações com os mais pobres?”. As alunas de Cantanhede respondem com o capítulo “A obrigação moral do Estado e das instituições para com os mais pobres”.
E o que concluíram? "Existe uma relação directa entre o nível de escolarização e formação dos indivíduos e a sua empregabilidade (e rendimentos), ou seja, a qualificação e formação é essencial pois dá aos indivíduos competências básicas que lhes permite por um lado criar riqueza e assim sair do estado de pobreza em que se encontram."
Nesta edição do concurso Pordata-RBN foi ainda atribuída uma menção honrosa aos alunos André Cunha, António Ferreira e Rita Pires, da Escola Secundária de Vergílio Ferreira, de Lisboa. Com o apoio do professor Rui Reis, realizaram o vídeo Nível de Vida em Portugal, um trabalho distinguido “pela sua originalidade técnica que permite uma leitura não convencional dos dados”.
Os prémios para os trabalhos vencedores são entregues nesta quinta-feira, às 15h, na Escola Secundária Gil Vicente, em Lisboa, na presença de António Barreto, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e de Maria João Valente Rosa, responsável pelo projecto Pordata. Cada um dos autores dos melhores trabalhos vai receber um iPad.