O artista, nascido em 1948 em Solothurn, na Suíça, era casado com a romancista Ana Nobre de Gusmão e vivia em Portugal há cerca de três décadas. Expunha regularmente no nosso país, tendo chegado a apresentar uma grande antologia do seu trabalho no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, em 2006.
O público português pôde conhecê-lo logo em 1979, na galeria Módulo. Depois, trabalhou com a Cómicos – Luís Serpa, a portuense Pedro Oliveira, a Cesar, entretanto extinta, e mais recentemente com a galeria Cristina Guerra. Ficou conhecido por um estilo pictórico completamente inédito no nosso país: telas geralmente de grande formato, onde a tinta muito diluída indiciava a paisagem romântica e a evocação longínqua do conceito de sublime.
O artista plástico Julião Sarmento, seu grande amigo, conta que se conheceram na Suíça, em Janeiro de 1979, onde o primeiro fazia uma exposição na Galerie Friedrich, em Berna. “Vi chegar um homem muito alto, que me disse que tinha marcada uma exposição para Portugal, e que depois me ajudou a fazer a montagem. Ficamos amigos desde aí.”, disse ao PÚBLICO.
No mês seguinte, Biberstein chega a Santa Apolónia, onde Sarmento e a sua mulher na altura, a crítica literária Helena Vasconcelos, o vão buscar. Combinam um jantar, e levam Ana Nobre de Gusmão com os três. “Apaixonaram-se logo ali. Nunca mais se largaram”, acrescenta Julião.
Michael Biberstein soube manter estas amizades e outras, feitas de cumplicidades artísticas e geracionais, que entretanto criou no nosso país. As galerias com que trabalhou são as mesmas de Sarmento. Mais tarde, compraria a herdade perto do Alandroal. “Tinha um moinho de água que corria dentro de casa”, conta ao PÚBLICO o galerista Luís Serpa, “e era na verdade um lugar excepcional”.
Amigos, jovens artistas e simples admiradores frequentavam esse lugar quase mágico, que ficou registado no filme recente de Fernando Lopes (1935-2012), O Meu Amigo Mike ao Trabalho (Midas Filmes). Nos últimos anos, ambicionava pintar o tecto da Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, um templo construído depois do terramoto de 1755 e a que falta ainda a pintura da cobertura para se considerar acabado.
O projecto, intitulado Um céu para Santa Isabel, foi apresentado primeiramente na Trienal de Arquitectura, em 2010, a que se seguiu a realização de uma maquete tridimensional na escala 1:8. A intervenção de Biberstein, integrada num projecto que envolverá outros espaços e autores, aguarda ainda parte do financiamento total. A seu propósito, o artista escreveu que esta igreja é, por agora, “uma pedra preciosa guardada dentro de uma caixa escura, com uma sombria tampa cinzenta.”
O corpo de Michael Biberstein seguirá para a capela mortuária de Santa Isabel na quinta-feira, estando marcada a sua cremação para as 10 horas de sexta, no Cemitério dos Olivais, em Lisboa.