Se procura emprego, não aposte tudo na Internet

Ter cuidado com os perfis nas redes sociais é uma boa prática. Mas provavelmente não é no LinkedIn que vai conhecer o seu próximo patrão.

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O LinkedIn é a mais profissional das redes sociais Reuters

José Bancaleiro, director executivo da Stanton Chase Portugal, uma empresa especializada em recrutamento de executivos, recorda um caso em que o perfil no Facebook acabou por prejudicar um candidato: a pessoa tinha publicado uma fotografia com a legenda: "Assim é que eu gosto. De papo para o ar, a coçar a micose." O potencial empregador, uma empresa de consultoria, não gostou e perdeu o interesse. "Se calhar, injustamente", concede Bancaleiro, já que é o tipo de frase que muitas pessoas dirão entre amigos.

Há regras básicas: ter cuidado com o tipo de fotografias e manter os pensamentos pessoais num círculo restrito de família e amigos. Mas o Facebook, com um complexo sistema para determinar o que é público e o que está disponível apenas para círculos restritos, é propício a deslizes – até porque muitos utilizadores são "amigos" no Facebook dos chefes e de colegas de trabalho de quem não são particularmente próximos.

Do outro lado do espectro, está o muito menos usado LinkedIn. "Sejamos claros: o Facebook é utilizado para relações sociais. O LinkedIn é para relações profissionais", sublinha José Bancaleiro. Nesta rede, as fotografias das férias são substituídas por fotos de fato e gravata ou por retratos de braços cruzados e postura confiante sobre um fundo neutro. 


No LinkedIn, é possível estabelecer contactos profissionais, participar em fóruns temáticos, listar informação de forma semelhante a um currículo (cargos, competências, graus académicos) e receber e dar recomendações. "É um currículo vitaminado, com o capital de relações que a pessoa tem e as recomendações que os seus pares fizeram", resume Rui Pedro Caramez, que recentemente escreveu um manual sobre como usar o site.

O LinkedIn parece a ferramenta perfeita para quem pretende estar activo no mercado de trabalho. Porém, dependendo do tipo de profissão, do ponto da carreira em que se encontre e do emprego de que estiver à procura, um bom perfil pode oscilar entre o moderadamente útil e o irrelevante, dizem os especialistas em recrutamento ouvidos pelo PÚBLICO.

Para começar, ninguém procura no LinkedIn candidatos para posições pouco especializadas (Bancaleiro, no entanto, lembra que o Facebook já foi usado para recrutar trabalhadores para call centers). E também não serve para os cargos de topo, que envolvem abordagens sofisticadas por parte de empresas especializadas. Restam sobretudo os cargos intermédios, aquilo a que a gíria do sector costuma designar por middle managers.

"Aconselho [a ter perfil no LinkedIn] os que ainda são juniores, até aos dez anos de experiência", diz Maria da Glória Ribeiro, directora e fundadora da Amrop Portugal, uma empresa de pesquisa de talento executivo. "A partir daí, acho que a pessoa que ficou disponível [sem emprego] tem de ser muito mais inteligente." No que toca à procura de executivos, garante que o LinkedIn não trouxe alterações às práticas da empresa que dirige.

Também Nuno Troni, gestor executivo em Portugal da empresa de recrutamento Michael Page, olha para aquele site com reservas. "Dificilmente beneficia, facilmente prejudica", avisa. Troni garante que nunca consulta os perfis nas redes sociais, seja o LinkedIn ou qualquer outra, salvo em situações excepcionais – aconteceu recentemente, quando procurava alguém cuja função implicava lidar com este tipo de plataformas.


Aqui, José Bancaleiro conta uma história diferente. Embora relativize o papel das redes sociais no trabalho das empresas de recrutamento, lembra um outro caso em que apresentou uma selecção de candidatos a um director executivo de uma empresa de tecnologias de comunicação. A primeira coisa que este fez foi procurar os nomes dos candidatos no Google. De seguida, foi aos perfis do Facebook e do LinkedIn.

Para além de permitir pesquisar pessoas por área de trabalho, empresa, senioridade no cargo, zona geográfica ou instituições de ensino frequentadas, o LinkedIn permite também a publicação de anúncios de emprego. É uma das fontes de receitas do site, a par das contas pagas, que disponibilizam funcionalidades especiais, algumas das quais são destinadas a profissionais de recursos humanos e outras a quem está à procura de trabalho.

Porém, mesmo como montra para colocar anúncios, a Michael Page está a usar o LinkedIn "numa fase de experiência", diz Nuno Troni. Na semana passada, a Michael Page tinha cerca de 205 anúncios no seu próprio site. Apenas 15 tinham sido postos no LinkedIn. Mesmo nestes casos, os interessados tinham de fazer a candidatura pelo site da empresa (há anúncios que permitem ao utilizador fazer a candidatura directamente através do LinkedIn, enviando logo o perfil ao recrutador). Em média, diz Troni, um anúncio posto naquela rede social ronda os 100 cliques. "No nosso site temos muitos mais."

Já José Bancaleiro vê benefícios na plataforma. No caso das posições intermédias, "quem não está no LinkedIn não existe". Mas sublinha que isso não basta. "É uma condição necessária, mas não suficiente. Tenho tido situações caricatas de pessoas que se inscrevem e acham que no dia seguinte têm dez pessoas a fazer-lhes propostas."

Um quadro intermédio tem "três grandes canais" para arranjar emprego, explica Bancaleiro. O primeiro são os anúncios. O segundo é estar na base de dados das empresas de recrutamento. O terceiro, "que é, de longe, o mais importante", são os relacionamentos pessoais e as redes de contactos. E isto não significa passar horas a ver a lista de sugestões de contactos que o LinkedIn apresenta e clicar no perfil das que eventualmente possam interessar. Nesta terceira via, estão "60% a 70% das hipóteses" de uma pessoa encontrar emprego, diz José Bancaleiro. E o conselho é sair de casa. Por exemplo, ir a eventos do sector. Ou simplesmente almoçar com antigos colegas.

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