Meia volta e estava a caminho. Não andou cem metros até que começou a chover. António achou que valeria a pena. Continuou a caminhar, desta vez mais depressa. “Vou sentar-me a conversar com ela.” Pensou no que diria. Não sabia muito bem, mas acreditava que havia um chamamento qualquer que o fazia caminhar naquela direcção. Quando chegasse, alguma coisa lhe ocorreria dizer. Por mais incipiente que fosse, resultaria. Confiava no seu charme. Mesmo num domingo à tarde.
Estava quase a chegar quando ouviu o barulho de um motor. Um pássaro voou até ao ramo de uma árvore. Olhou em volta, atento a tudo, como fazem os pássaros, cantou e levantou voo. Ao agitar o ramo, uma folha soltou-se e planou lentamente, como se estivesse a acariciar o ar.
Menos de um segundo depois, um carro entrou com demasiada velocidade naquela curva e despistou-se. A Matemática fez das suas e mostrou que as probabilidades são como as baratas: ou se pisa com força ou elas vão sempre rastejar até algum lado. Naquele caso, a probabilidade mais nojenta rastejou na direcção errada.
Em tantos metros de passeio, o carro entrou precisamente por onde estava António. O embate foi violento. Antes que a folha tocasse o chão, António estava morto.