Direcção do PS vê convite do primeiro-ministro a Seguro como encenação
Secretário-geral socialista vai quarta-feira de manhã a S. Bento, mas sem confiança na abertura do primeiro-ministro a um verdadeiro consenso.
O secretário-geral socialista reune-se com o primeiro-ministro esta quarta-feira de manhã, em hora ainda não revelada, mas que será antes da reunião que Seguro agendou com a troika para as 12h, no Largo do Rato. O líder do PS responde assim, afirmativamente, ao segundo convite de reuniões para o mesmo dia - depois do endereçado pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.
Num comunicado divulgado ao fim da tarde de terça-feira, o gabinete do secretário-geral do PS afirma que "o diálogo político e institucional é uma das marcas identitárias do PS à qual permaneceremos fiéis e da qual não nos afastamos". E por isso, "se o Primeiro-Ministro convida, formalmente, o PS para uma reunião, o PS não a recusa".
No entanto, deixa claro que as posições do PS sobre todos os pontos referidos na carta de Passos Coelho "são há muito do conhecimento dos portugueses". E elenca: "O PS defende a renegociação das condições de ajustamento, uma trajectória credível de consolidação das contas públicas, o fim da política de austeridade para travar a espiral recessiva e preservar o emprego, a adopção de uma agenda para o crescimento e emprego e a defesa firme dos interesses de Portugal na União Europeia."
Seguro deverá, pois, ir a S. Bento sem expectativas quanto à possibilidade de retomar o consenso. O PÚBLICO sabe que a direcção socialista considera que a carta do primeiro-ministro foi uma encenação, um golpe de teatro, entendendo os dirigentes rosa que o Governo só se lembra do PS depois de pressionado pela troika.
Fonte socialista disse ao PÚBLICO considerar que o primeiro-ministro sabe que António José Seguro nunca aceitará o que está na carta, e que o objectivo do pedido do encontro é apenas obter o alto patrocínio do PS para levar por diante as suas medidas.
Na carta endereçada pelo primeiro-ministro ao secretário-geral do PS, Passos Coelho escreve que uma flexibilização adicional dos actuais limites do défice, que tem sido defendida por Seguro, não é viável, pelo que o “caminho é estreito” e exige diálogo e consensos alargados.
“Deve ser tido em conta que a nossa margem para negociar para negociar com os parceiros europeus e internacionais uma flexibilização adicional dos actuais limites dos défices orçamentais inscritos no nosso programa de assistência não é viável, pelo que as medidas a adoptar têm de assegurar o cumprimento dos limites já negociados”, justifica o primeiro-ministro.
Passos Coelho alega que a situação reclama um “diálogo e um entendimento alargados sobre as medidas que devem ser adoptadas”, considerando "essencial" para o sucesso do programa de assistência económica e financeira a manutenção desse "largo consenso nacional" quanto ao cumprimento das nossas obrigações com as entidades internacionais.