Ulrich diz-se “perplexo” com declarações de Passos sobre concessão de crédito
A principal responsabilidade de um banco é “proteger os depósitos e não dar crédito”, defende o presidente executivo do BPI.
“Fiquei perplexo porque se o tema é tão importante para o primeiro-ministro dizer isso, é estranho que não tenha conversado connosco” disse Fernando Ulrich, que falava na Universidade de Aveiro no seminário Conversas Sobre Exportação.
Pegando no mote do encontro, o banqueiro lamentou que o Governo, “possivelmente por causa das difíceis negociações com a troika, tenha cada vez menos tempo para falar com a oposição e com os parceiros sociais, porque faz falta a possibilidade de trocar opiniões construtivas” sobre os problemas.
“A última conversa que se fez foi sobre os fundos de pensões, em Dezembro de 2011 e conversámos sobre contrapartidas, nomeadamente a compra pelo Estado dos créditos da banca a entidades oficiais, que não foi feita até hoje”, lamentou.
Fernando Ulrich referiu igualmente que o BPI tem pendente no Banco Europeu de Investimentos uma linha de financiamento de 300 milhões de euros destinada a apoiar as empresas que não avançou “por questões por resolver” entre o Estado português e as entidades europeias.
“Se estão preocupados, então vamo-nos sentar à mesa a ver como se resolve o problema”, disse, discordando da leitura que é feita sobre a realidade económica e financeira do país e afirmando temer que quem a tem “não esteja a perceber a razão dos problemas e como se ultrapassam”.
A referência explícita à Caixa Geral de Depósitos também desagradou ao presidente executivo do BPI: “Não gosto desse tipo de actuação, mesmo que seja a CGD, e não é assim que se deve fazer o tratamento da questão”.
Em declarações no sábado, após o conselho nacional do PSD, Passos Coelho garantiu que o Estado actuará junto das instituições financeiras para relançar o crédito à economia, nomeadamente naquelas cuja recapitalização suportou, para que possam exercer esse papel.
Hoje, o presidente executivo do BPI salientou que “a principal responsabilidade de um banco é proteger os depósitos e não dar crédito” e atribuiu a situação de Chipre ao excesso de crédito concedido por alguns bancos, que correu mal”, pelo que “tem de haver ainda mais cuidado na concessão de crédito” e tranquilizar os depositantes com critérios de prudência e exigência. “A situação de Chipre tem consequências na gestão das instituições financeiras e não podemos ignorar isso e as consequências que daí resultam”, advertiu.
CGD: bancos apoiam em função das circunstâncias
Já o presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos disse, numa conferência em Lisboa, que os bancos portugueses estão prontos para financiar a economia “se as circunstâncias permitirem” e referiu que o banco público, em específico, tem condições para apoiar a internacionalização de empresas.
“Temos um sistema financeiro muito estável para apoiar uma economia em crescimento e vibrante se as circunstâncias o permitirem”, afirmou hoje José de Matos numa conferência sobre banca organizada pelo ICC (International Chamber of Commerce) Banking Commission, num hotel em Lisboa.
Segundo o presidente executivo do banco público, o sector financeiro português atingiu “todas as medidas previstas no programa” de ajustamento negociado com a troika e está agora “muito bem capitalizado e resiliente aos desenvolvimentos do mercado”, pelo que pode apoiar a economia “se as circunstâncias o permitirem”.
Já à margem do evento, questionado pela Lusa sobre as declarações do primeiro-ministro sobre a necessidade de a banca reforçar o crédito à economia, José de Matos não quis falar sobre o assunto.