Músico turco foi condenado por ter criticado o islão
Fazil Say colocou no Twitter afirmações que um tribunal de Istambul considerou provocadoras e blasfemas. O pianista e compositor defende-se dizendo que o seu processo é político
Fazil Say tinha sido acusado, e começou a ser julgado em Outubro do ano passado, por ter colocado no Twitter afirmações, que foram vistas como provocadoras, contra o islão e os muçulmanos.
O músico – famoso no seu país e com um obra reconhecida internacionalmente, nomeadamente na Alemanha, França e Japão – não compareceu ao julgamento. E a advogada, Meltem Akyol, que tinha pedido a sua absolvição, não fez nenhum comentário à sentença (que podia chegar a ano e meio de prisão), à saída do tribunal. Mas Fazil Say divulgou um comunicado considerando o veredicto “muito triste para a Turquia”.
O músico, cuja oposição ao actual governo conservador do seu país é bem conhecida, tinha já comentado o processo em Dezembro, em declarações ao canal CNN Türk, dizendo que “tudo isto é político”. “Querem obrigar-me a acreditar em deus fazendo com que eu passe um ano e meio na prisão”, disse então o artista, que advertiu mesmo as autoridades para a possibilidade de optar pelo exílio, em caso de condenação.
De resto, nos meios culturais e intelectuais da Turquia, o processo Fazil Say é visto como mais um episódio preocupante na escalada que o partido actualmente no poder (AKP – Partido da Justiça e do Desenvolvimento), e o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, vêm desenvolvendo no ataque à liberdade de expressão.
Num relatório divulgado no mês passado, a Amnistia Internacional – recorda o jornal The Guardian – incluiu a Turquia na lista dos países “com mais problemas de direitos humanos”.
A acusação a Fazil Say foi motivada por um conjunto de tweets, no início do ano passado, em que o músico parodia algumas práticas religiosas e até a tradicional chamada para a oração (muezzin). Além disso, numa das suas mensagens no Twitter, Say remeteu para outra com um verso do poeta persa do século XI, Omar Khayyám: “Dizes que há rios de vinho a correr no céu; significa isso que o céu te parece uma taberna? Dizes que duas companheiras (huris) esperam no céu por cada crente; o céu parece-te um bordel?”
O The Guardian recorda, a propósito da notícia deste julgamento, que, em 1998, o actual primeiro-ministro Erdogan foi preso, acusado de “incitamento ao ódio religioso”, depois de ter recitado um poema atribuído ao escritor otomano Ziya Gökalp (1876-1924).
Já o actual ministro turco da Cultura e do Turismo, Ömer Çelik, reagiu à sentença do tribunal, instado pelos jornalistas, quando visitava a Feira do Livro de Londres: “Eu não gostaria de ver ninguém a ser julgado por expressar as suas ideias. E isto é especialmente verdade no que diz respeito aos artistas e a figuras da cultura”. Mas escudou-se no facto de a sentença relativa a Fazil Say ser “uma decisão judicial”.