Parti para Bruxelas com um manifesto nas mãos e um queque no estômago. Uma prova de fé quando se trata de assentar ideias que garantam um futuro à Europa. O Parlamento Europeu (PE) abria-se assim, no dia 10 de Abril, ao contributo de 200 jovens presentes no encontro Youth in Crisis, patrocinado por um grupo de deputados europeus. De Portugal seguiu um grupo de 15 participantes a convite do eurodeputado Rui Tavares. Perfeitos desconhecidos que colocaram as suas diferenças ao serviço da redacção de um Manifesto por um Futuro Europeu.
Democracia, democracia e mais democracia. Esta foi, porventura, a palavra mais ouvida durante todo o debate. A solução para a crise económica é, para os jovens europeus, profundamente política e exige uma Europa com legitimidade popular reforçada. Com a promessa indefectível de paz e prosperidade eterna caída em desgraça, a lógica do progresso já não chega para convencer os europeus das virtudes do projecto de união.
A União Europeia (UE) carece, como nunca até agora, de fôlego democrático. Hoje, os europeus não estão dispostos a abdicar da sua voz na edificação do projecto europeu e exigem uma real democratização no seio da estrutura da UE, aproximando os cidadãos do processo de governação multi-níveis, desmistificando as difusas esferas do poder que operam no monolítico universo de Bruxelas e conferindo autoridade revigorada ao único órgão democraticamente eleito, o PE.
Se a luta pela democracia se assumiu como factor de união, as questões económicas manifestaram o seu poder fracturante. Propostas como a criação de um "salário mínimo europeu" levantaram sérias discordâncias, fazendo emergir as divisões Norte/Sul. E, numa altura em que a UE nunca esteve tão ameaçada, a palavra solidariedade foi repetida até à exaustão. Uma solidariedade, como sempre até agora, de circunstância e vazia de sentido prático.
Contas feitas, 60 anos de projecto de União deram origem a melhores europeus. Ao contrário dos seus líderes, os jovens europeus parecem disponíveis a lutar por uma Europa comum para além das lealdades nacionais. Irónico é verificar que esta, que é a geração nascida sob o signo da Europa sem fronteiras, não tem uma classe política à altura, capaz de fazer erguer a UE como projecto de desenvolvimento e prosperidade para todos.
Erguida do sangue, a Europa não pode continuar a prescindir do contributo dos seus cidadãos e a eleger a tecnocracia como arma de governação. Sem instrumentos ou autoridade que lhe valha, a UE parece ter prescindido do verbo ‘governar’ e optado, em definitivo, por conjugar o ‘liberalizar’ em todo o seu esplendor neoliberal. Carece hoje de regressar à derme, infiltrar-se na efervescência das artérias e deixar-se de estados epidérmicos. A avidez do dinheiro e a partilha da pobreza parecem ser as únicas funções atuais da UE. Muito pouco para forjar cidadãos, mas aparentemente mais do que suficiente para forçar preconceitos e divisões.