Novo partido alemão antieuro diz que moeda única divide a Europa
Responsável do partido Alternativa para a Alemanha defende que é necessário o fim do euro para que o espaço europeu volte a ser unido.
Com uma lista que, segundo a descrição da revista alemã Der Spiegel, “mais parece uma directoria de uma faculdade” devido ao número de académicos nas suas listas, o novo partido Alternativa para a Alemanha teve no domingo o primeiro congresso. O novo partido quer a “dissolução ordeira” da zona euro.
A reunião para o lançamento oficial desta formação política segue-se a vários encontros por toda a Alemanha. O partido está ainda no processo de obter assinaturas para estar, a tempo das próximas legislativas de Setembro, no boletim de voto em todos os estados federados. E tudo indica que o irá conseguir.
A face do partido antieuro não é um incendiário político extremista. É sim Bernd Lucke, 50 anos, um professor de Economia de Hamburgo que pertenceu à CDU, partido de Angela Merkel, durante 33 anos, e que no domingo foi eleito como um dos três líderes do Alternativa para a Alemanha.
O partido assenta em duas linhas: a de que os empréstimos aprovados pelo Parlamento alemão aos países em dificuldades são ilegais (visão também de um grupo de economistas que tem desafiado as medidas no Tribunal Constitucional alemão e que apoia o novo partido); e a de que o euro, em vez de unir a Europa, está a dividi-la.
“Queremos pôr fim à flagrante violação dos princípios democráticos, legais e económicos que temos visto nos últimos três anos, porque o Governo da chanceler Merkel diz que não há alternativa”, disse Lucke aos apoiantes. “Aqui está a alternativa.”
“O euro está dividir a Europa”, defende Lucke. “É preciso não haver uma moeda única para assegurar a unidade pacífica da Europa.”
“Se o euro falhar, não é a Europa que falha”, argumenta ainda. “São as políticas de Angela Merkel e Wolfgang Schäuble que falham.”
"Não se pode fazer de novo ovos de uma omelete"
Os alemães começam a estar fartos de ver a chanceler vestida de nazi em protestos em vários países europeus. “Cada suástica na rua de Atenas ajuda este partido”, comentou Wolfgang Nowak, da Universidade de Duisburg, ao diário norte-americano The New York Times
Mas se o partido é rápido a dizer o que não quer – o euro – não é assim tão claro quanto ao que quer. Lucke diz que o regresso ao marco é “uma opção”. Ainda não é claro quais seriam outras.
A CDU reagiu tentando mostrar a dificuldade desta proposta: “Não se pode fazer de novo ovos de uma omelete”, disse Steffan Kampeter, "vice" do ministro das Finanças, ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.
O que conseguirá o partido nas legislativas de 22 de Setembro está longe de ser claro. A maioria dos analistas não acredita que ultrapasse os 5% necessários para ter representação parlamentar.
Analistas lembram ainda que o sucesso de partidos de protesto é muitas vezes curto, apontando para a recente ascensão e queda do Partido Pirata.
Mas ao entrar no território da CDU e dos liberais (parceiros de coligação no Governo de Merkel), o novo partido poderá tirar-lhes votos, e acabar por beneficiar, assim, os sociais-democratas do SPD, que defendem precisamente mais medidas de solidariedade para com os países em crise.