Com o trabalho de Robert Edwards passou-se da ficção à realidade, diz Pereira Coelho
António Pereira Coelho
"O professor Edwards representa para mim, em dois momentos distintos, a passagem da ficção à realidade. Primeiramente, quando em 1978 me apercebi de que alguns escritos 'estranhos', de cuja substância eu duvidei ao lê-los pela primeira vez em 1975, se tornaram subitamente em realidade com o nascimento de Louise Brown. O segundo momento ocorreu quando, acabado de chegar a Paris em Setembro de 1983 para a preparação da minha tese de doutoramento, tive a oportunidade de o conhecer directamente e entrar deslumbrado num mundo que nunca concebera.
Ficou definitivamente traçado o meu futuro, que acabara de corporizar numa figura que me cativou logo no primeiro contacto. Nunca cheguei a perceber se era uma pessoa simples como se me afigurou, ou sabia disfarçar elegantemente o orgulho que sentia pelo seu feito. Opto por continuar a encará-lo como uma cientista modesto, não no saber, que era enorme, e como tal transmitia, mas no relacionamento com terceiros. Pares não direi, porque, quer no momento quer posteriormente em fases relevantes da minha vida, jamais me senti par de alguém que tanto sabia e tanto apreciava transmitir o seu saber.
Paz à sua alma, porque em paz pode ficar quem ao longo dos seus dias teve a felicidade de não ver concretizados os receios dos profetas da desgraça!"