Coreia do Norte não garante segurança das embaixadas em caso de guerra

Estados Unidos vão estacionar um avião espião numa base no Japão para vigilância.

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Retórica belicista entre Coreia do Norte e EUA já começou a ser acompanhada de manobras no terreno

A mobilização dum avião deste tipo – pela primeira vez no Japão – estava prevista para ocorrer entre Junho e Setembro mas foi antecipada perante as crescentes ameaças e declarações de hostilidade por parte do regime de Kim Jong-un. A iniciativa segue-se a um dia relativamente calmo, sexta-feira, mas em que Pyongyang anunciou que não pode garantir a segurança das embaixadas a partir do próximo dia 10, em caso de guerra.

Um dia em que também surgiram as primeiras notícias de que Washington está a mudar de estratégia para limitar a possibilidade de um erro de cálculo por parte da Coreia do Norte.

Primeiro, as más notícias: de acordo com a agência sul-coreana Yonhap, Pyongyang terá colocado dois mísseis de médio alcance na sua costa Este, com autonomia para atingirem o Japão ou a base norte-americana na ilha de Guam. Suspeita-se que se tratam de mísseis Musudan, cuja existência foi constatada em 2010 durante uma parada militar, mas que nunca foram testados. Também na sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido disse ter recebido uma comunicação oficial da Coreia do Norte com a informação de que o regime não podia garantir a segurança das embaixadas a partir da próxima quarta-feira, se entretanto começar um conflito armado.

A boa notícia surgiu esta sexta-feira nas páginas do Washington Post: "Após uma demonstração de poderio militar, com o objectivo de dissuadir as provocações norte-coreanas, a Casa Branca está a moderar a sua postura agressiva, devido aos receios de que possa provocar inadvertidamente uma crise ainda mais grave", escrevem os jornalistas Adam Entous e Julian E. Barnes.

O jornal cita um "alto responsável da Administração Obama": "Toda a gente está preocupada com a hipótese de um erro de cálculo e com o início de uma guerra. Mas a sensação no Governo dos EUA é a de que a Coreia do Norte não vai pôr a hipótese de uma guerra aberta. Acima de tudo, eles estão interessados na sobrevivência do regime."

Conflito seria "suicidário"
O risco de um conflito armado na região não pode ser posto de parte, agora que a retórica belicista começou a ser acompanhada de manobras no terreno, mas a maioria dos analistas continua a acreditar que Kim Jong-un não está interessado em cometer suicídio.

"As ameaças diárias de Pyongyang são fantasias. Se eles cumprissem alguma dessas ameaças, seria suicidário", escreve no jornal The Guardian Aidan Foster-Carter, especialista em História da Coreia Moderna na Universidade de Leeds. Foster-Carter justifica a sua análise com o perfil do líder norte-coreano: "Kim Jong-un gosta do seu conforto; não tem qualquer inclinação para o martírio. Está a divertir-se como um adolescente a jogar computador, apesar de estar a brincar com o fogo."

O especialista sublinha também um "indício negligenciado" – é assim que classifica a reunião de 28 de Março, onde Kim Jong-un proferiu um "discurso histórico", segundo a agência oficial KCNA. Kim frisou que aquela reunião não tinha como objectivo fazer preparativos militares. "Sem dúvida", afirma Aidan Foster-Carter: "As pessoas presentes eram responsáveis pela informação de todos os sectores do Exército. Então, quem está a Coreia do Norte a mobilizar? Propagandistas, cujo trabalho é lutar com palavras, e não lutar."

Mas há o risco de Pyongyang lançar "um ataque furtivo e criativo, que dificilmente será atribuído à Coreia do Norte sem margem para dúvidas, o que evitará a condenação internacional e a retaliação imediata de Washington ou de Seul", defende Sue Mi Terry, professora na Universidade da Columbia e antiga conselheira da CIA sobre a Coreia do Norte. Ouvida pelo site da revista Wired, Sue Mi Terry deixa mesmo uma certeza: "A Coreia do Norte vai lançar um ataque", mas não será nem nuclear, nem com recurso à sua poderosa artilharia."

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