Guimarães Consolo 2012: O olhar pós-Capital
Um ano após a Capital Europeia da Cultura, o projecto “Guimarães Consolo 2012” exibe, de 28 a 31 de Março de 2013, uma performance que promete explorar as relações da comunidade local com a cidade
O espectáculo performativo com ocupação criativa multidisciplinar, assim se define o “Consolo 2.0”, é o resultado do projecto “Guimarães Consolo 2012”, cujo objectivo está na observação da relação dos habitantes da cidade, durante o ano da Capital Europeia da Cultura 2012(CEC).
Partindo do ensaio “A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer”, da autoria do jornalista e escritor sueco, Stig Dagerman, o projecto, repartido em três fases, junta a pesquisa etnográfica e o pensamento antropológico com a criação performativa.
“A necessidade de consolo está relacionada primeiro com a cidade de Guimarães”, explica a antropóloga e coordenadora do projecto, Inês Lago, ao justificar a procura de oportunidades fora da cidade, pelos artistas locais: "Eu estava há dez anos fora, na altura, e tinha a noção de que Guimarães era uma cidade cheia de artistas desconsolados", revela ao P3.
Na primeira fase, a equipa de antropólogos composta por Inês Lago, Elisabete Fragoso e Manuel António Pereira, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Nova de Lisboa (FCSH-UNL) partiu para o terreno para um trabalho de investigação etnográfica que decorreu entre o ano de 2012 e inícios de 2013.
A segunda fase reuniu mais de uma dezena de participantes da comunidade local numa espécie de laboratório-oficina de criação performativa, no qual, os intervenientes trabalharam a relação pessoal com o consolo, e que deu origem a uma apresentação nos dias 1 e 2 de Março de 2013. Na terceira e última fase, o projecto encerra com a performance final, “Consolo 2.0”, que está em exibição de 28 a 31 de Março, no Centro Infantil e Cultural (CICP), em Guimarães. O espectáculo combina criação dramatúrgica, instalação multimédia, e música ao vivo.
O projecto “Guimarães Consolo 2012” está inserido na operação “Constelações” do Programa Associativo “Tempos Cruzados”.
Três abordagens etnográficas
Durante a fase de investigação, a equipa de três antropólogos seguiu diferentes abordagens metodológicas, cada um com um objecto etnográfico diferente.
No caso de Inês Lago, a pesquisa focou-se na auto-etnografia, uma metodologia de análise qualitativa que aborda a perspectiva da relação do “eu” com o “outro”: “Eu estou a olhar para a cidade mas sem me esquecer que faço parte dela e às vezes tenho de me distanciar mas essa visão distanciada é uma visão de pensamento”.
Já Elisabete Fragoso dedicou-se às associações culturais de Guimarães para “tentar perceber que ligações é que existem entre as várias instituições”, no antes e depois da Capital Europeia da Cultura”, ou seja, “como é que elas cedem, do ponto de vista da memória colectiva, para poderem trabalhar em conjunto para a CEC”, explica a antropóloga.
Para o produtor e antropólogo, Manuel António Pereira, a ideia foi "encontrar o consolo institucionalizado dentro de uma noção de Capital Europeia da Cultura e de uma imagem de Guimarães” no sentido de unir, enquanto projecto político, o conceito de uma “cidade património e histórica, a uma cidade criativa e modernizada”.
No final, parte da recolha etnográfica, em forma de vídeos, entrevistas e diários de bordo vai estar disponível ao público, nas instalações do CICP e nos parceiros do projecto, Cineclube de Guimarães e Associação Convívio.