Óscar Lopes foi professor, crítico literário, ensaísta e um dos mais importantes investigadores da literatura e da linguística em Portugal. Escreveu dezenas de livros – o mais conhecido dos quais é a História da Literatura Portuguesa, que partilhou com António José Saraiva – e ensinou milhares de alunos do ensino secundário e do ensino superior. Foi também militante do PCP, o que lhe valeu duas passagens pelos calabouços da PIDE, de que lhe ficaram sequelas no corpo, e a interdição de dar aulas na universidade até 1974.
Nunca fui seu aluno, nem o conheci pessoalmente, mas várias das suas obras acompanharam-me desde da universidade. São livros que resplandecem de sabedoria, convicção e emotividade.
Óscar Lopes não tinha medo de, ao falar de obras de literatura do passado e do presente, mostrar o quanto tinha estudado e lido, de revelar os seus ideais sociais e políticos, a sua visão marxista da existência, e de mostrar como as obras que lera o tinham comovido ou deixado frio e indiferente. Sempre com uma prosa límpida e forte, sempre com uma honestidade intelectual de aço.
Talvez por o ter lido tanto, tantas vezes, com tanto deleite, Óscar Lopes passou a ser para mim também um mestre. Um mestre que, como dizia Santo Agostinho, não é alguém que nos mostra a verdade, mas que nos mostra os caminhos possíveis para chegar à verdade. E a única forma de o fazer é sendo o próprio mestre um ser integral, verdadeiro e generoso, no ensino e na vida. Só desse modo é que um mestre, naquilo que tem de forte e de fraco, de admirável e de falível, de certo e de errado, dá a oportunidade ao discípulo de rejeitar ou aceitar os seus ensinamentos, e de se tornar ele próprio integral e verdadeiro.
Obrigado, Óscar Lopes, por ter sido um mestre, mesmo que apenas através da página escrita.