Sobre Óscar Lopes
Depoimento de Carlos Reis, ensaísta e professor universitário
De toda a vasta obra que Óscar Lopes nos lega, destaca-se, certamente como título mais notório, a História da Literatura Portuguesa, que escreveu em co-autoria com António José Saraiva, um manual que conta com um número invulgar de edições e de reimpressões; fica assim bem evidente o amplo acolhimento que aquele manual conheceu, por parte de várias gerações de estudantes e de professores, em Portugal e também no Brasil. Entre muitas outras coisas, a História da Literatura Portuguesa de Óscar Lopes e António José Saraiva (publicada pela primeira vez em 1953 e objeto de sucessivas atualizações), ensinou-nos a olhar de forma diferente para a nossa história literária; muito marcada até então por uma perspetiva biografista e às vezes acentuadamente celebratória, a história literária portuguesa passou, a partir da História da Literatura Portuguesa de que Óscar Lopes foi co-autor, a ser relacionada com os contextos sociais, políticos e económicos em que se enquadrava. A formação marxista de ambos os autores era, em 1953, determinante, mas não contaminava, com uma leitura estreitamente ideológica, os textos e os autores representados na História da Literatura Portuguesa.
Este é um aspeto que quero realçar. Conheci sempre no Prof. Óscar Lopes uma personalidade tolerante e dialogante, aberta a outras ideias e formas de pensar diferentes das suas, interessado e profundo conhecedor da música (o que bem se vê em Uma arte de música e outros ensaios, de 1986), das artes plásticas, da filosofia e do pensamento religioso. Posso dizer, sem exagero, que Óscar Lopes era detentor de uma cultura literária absolutamente impressionante, que sempre levava às intervenções que fazia, em conferências, em congressos e em colóquios, sem exibicionismo, mas com um vigor participativo e com uma abertura ao debate invulgares.
Registo ainda, em evocação necessariamente sumária, mas muito grata ao que aprendi com Óscar Lopes, a importância de títulos como Os Sinais e os Sentidos: Literatura Portuguesa do Século XX(1986), Entre Fialho e Nemésio: Estudos de Literatura Portuguesa Contemporânea (1987) e A Busca de Sentido. Questões de Literatura Portuguesa (1994). Em todos eles fica-nos uma herança de grande sensibilidade crítica, de grande argúcia interpretativa e de enorme dedicação à literatura e à cultura portuguesas.
O autor, ensaísta e professor universitário, especialista em Eça de Queirós, escreve segundo o novo Acordo Ortográfico