Adiada sessão de emergência no Parlamento de Chipre sobre depósitos
Todos os encontros deste domingo foram adiados para segunda-feira.
Todos os encontros que estavam agendados para este domingo foram adiados, adianta a agência Reuters. Um pouco antes o Presidente de Chipre, Nicos Anastasiades, já tinha adiado para segunda-feira um encontro informal que iria ter com os legisladores no sentido de impedir a população de correr para os bancos a tentar levantar os depósitos.
Após uma maratona negocial de dez horas, o Eurogrupo aprovou na madrugada de sábado, em Bruxelas, o resgate ao país, que inclui medidas como um aumento dos impostos sobre as empresas, que pode chegar aos 12,5%, e um imposto extraordinário de 9,9 % sobre os depósitos acima dos 100.000 euros e de 6,7 % para os valores abaixo. Ao todo, o país receberá 10.000 milhões de euros das instâncias internacionais, um valor ainda assim abaixo do pedido.
Taxa extraordinária já foi congelada nas contas
No sábado, tanto online como nas poucas sucursais bancárias que estavam abertas, os cipriotas sobressaltados com a notícia e em pânico tentaram em vão levantar ou transferir dinheiro – visto que a o valor correspondente à taxa já estava cativo por uma questão de prevenção, até a lei ser aprovada. Os bancos só voltam a abrir na terça-feira, visto que segunda-feira é feriado naquele país.
A notícia sobre o adiamento da sessão por parte do Governo foi inicialmente avançada pela televisão pública daquele país, escreve a AFP. Na sessão deveria ser ratificado o plano de resgate cipriota, sendo que no Parlamento de 56 lugares nenhum partido tem maioria.
O Presidente também deveria falar ao país, mas a mensagem só acontecerá na segunda-feira. No sábado, Anastasiades anunciou que falaria à nação sobre o “doloroso” plano neste domingo, adiantando que sem estas medidas o risco de “desmoronamento” do sistema bancário cipriota era real. “Tínhamos de escolher entre o cenário de catástrofe de uma falência não controlada e uma gestão dolorosa mas controlada da crise que coloca um ponto final na incerteza”, dizia o comunicado do Presidente, citado pela AFP. Na mesma nota, o governante referia que o plano passa por uma “refundação” de todo o sistema bancário, sendo que a alternativa seria “uma eventual saída do euro” que se traduziria numa “desvalorização da moeda de 40%.
A mesma agência adianta que Nicos Anastasiades deverá falar no Parlamento na segunda-feira às 9h (hora de Lisboa), seguindo-se um debate com os deputados às 14h, para dar tempo para todos estarem mais preparados. O Governo vai reunir-se a partir das 6h30 para finalizar o projecto que apresentará no Parlamento para aprovar as medidas excepcionais de apoio à banca e que não deixa nenhum depósito de fora.
Parlamento sem maioria
A televisão privada do país Sigma TV, no entanto, assegura que Anastasiades quer ganhar tempo para conseguir mais do que uma maioria simples na aprovação do diploma, onde o partido de direita Disy só detém 20 dos 56 assentos parlamentares, sendo que os comunistas do Akel têm 19. Além disso, no sábado o deputado do partido Diko (centro-direita) Nicolas Papadopoulos, que apoiou a eleição do Presidente em Fevereiro, classificou o acordo como “desastroso”. “Antes pensava que qualquer solução seria má para Chipre, mas esta é um pesadelo”, disse.
As medidas aprovadas pelo grupo de 17 países foram muito mal recebidas pelos cipriotas, que estão contra a inclusão dos depósitos bancários no apoio ao financiamento do país e que dizem ter sido apanhados de surpresa. O imposto sobre os depósitos será aplicado não sobre os juros, mas sim sobre o capital. Isso significa que um cipriota ou um cidadão de outro país que tenha 101 mil euros num banco de Chipre, perderá de forma imediata dez mil euros, exemplifica no sábado o jornal El Mundo. Em troca da taxa, os depositantes receberão acções do banco.
Este é o quinto programa de assistência financeira na zona euro, depois dos da Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha (neste caso centrado apenas no sector bancário). Apesar de o Produto Interno Bruto de Chipre representar apenas 0,2% da zona euro, o comissário dos Assuntos Económicos e Monetários da União Europeia, Olli Rehn, sublinhou que a falência do país seria “relevante para todo o sistema”.