Cura funcional observada em 14 adultos infectados pelo vírus da sida

Poucos dias após o anúncio da remissão de longo prazo de um bebé infectado pelo VIH e tratado à nascença, o mesmo efeito de uma terapia anti-sida precoce foi agora anunciado em adultos.

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Tratar os adultos temporariamente, logo após a infecção, poderá permitir o controlo do VIH pelo sistema imunitário AFP/Instituto Pasteur

Os resultados pormenorizados deste estudo, que tinham sido anunciados em Julho passado, durante do congresso internacional da sida nos EUA, pela equipa de Christine Rouzioux, do hospital Necker de Paris, foram publicados esta quinta-feira na revista online de acesso livre PloS Pathogens.

Segundo os autores, nos últimos quatro anos, estes 14 adultos, todos eles participantes num estudo conhecido como "estudo de Visconti", viram diminuir o número de células infectadas pelo VIH  a circular no seu sangue apesar da ausência de tratamento.

Recorde-se que, no início de Março, a equipa de Deborah Persaud, da Universidade Johns Hopkins, EUA tinha revelado, também num congresso, “o primeiro caso bem documentado de cura funcional de uma criança com VIH”. Um bebé norte-americano cuja mãe era seropositiva e que começara a ser tratado com doses terapêuticas de anti-retrovirais contra o VIH, quando tinha apenas 30 horas de vida, encontrava-se em remissão dez meses depois de o tratamento ter sido interrompido (quando a criança tinha 18 meses). No caso do estudo de Visconti, os participantes foram tratados durante três anos.

O VIH não foi totalmente erradicado do organismo do bebé nem do dos 14 adultos, mas a sua presença é tão ténue que o próprio sistema imunitário destas pessoas consegue controlá-lo. “O tratamento precoce permitiu provavelmente conter os reservatórios virais, preservando as respostas imunitárias, uma combinação que terá certamente favorecido o controlo da infecção após a interrupção do tratamento”, explica Christine Rouzioux.

Embora não se saiba se os participantes em remissão teriam ou não conseguido controlar espontaneamente o VIH sem tratamento, a maior parte dos 14 seropositivos franceses, salientam ainda os cientistas, não tinha o perfil genético nem o tipo de respostas imunitárias característicos das pessoas que são naturalmente imunes ao vírus da sida (e que representam, estima-se, menos de um por cento da população geral).

Estes casos [de cura funcional] “permitem esperar a descoberta de novos mecanismos capazes de controlar a infecção”, disse à AFP Laurent Hocqueloux, do hospital Orléans-La Source (França) – e um dos elementos da equipa do estudo de Visconti. Nos próximos meses, deverá arrancar um estudo semelhante à escala europeia, coordenado também pela agência francesa de estudo da sida (ANRS).
 
 

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