Mais de dez mil alunos abandonam a escola sem o ensino obrigatório completo
Taxa de abandono escolar caiu de 12,6% para 1,7% num prazo de 20 anos, indica estudo de ex-ministro da Educação David Justino.
"Isto corresponde a um grupo de 11.500 miúdos e, embora sejam números residuais, não devem ser esquecidos", salientou David Justino na apresentação do Atlas do Abandono e do Insucesso Escolar em Portugal, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
O estudo, centrado nas crianças dos dez aos 15 anos que deixaram a escola sem o 3.º ciclo do ensino básico completo, incluindo os que nunca o frequentaram, faz uma análise comparativa dos números do abandono escolar em Portugal entre 1991 e 2011, quando a escolaridade obrigatória ia até ao 9.º ano (agora está no 12.º). Há 20 anos, essa taxa cifrava-se em 12,6%, tendo caído entretanto para os já referidos 1,7%.
"Houve uma redução quantitativa e uma alteração na natureza do abandono", explicou. Em 1991, "o grande pólo geográfico ligado ao abandono" estava localizado no Litoral Norte do país. Com base nos censos de 2011 foi possível verificar que "houve uma deslocação para os distritos do interior". Ainda não foram estudados os motivos que levaram a este deslocamento, mas David Justino avançou que este não será "independente da rota de circulação de algumas minorias étnicas, que se fixaram no interior do país".
Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras estão entre os municípios com maior redução da taxa de abandono escolar no período abrangido pelo estudo.
O estudo aborda também o abandono escolar nos jovens entre os 18 e os 24 anos que saíram da escola sem o secundário completo, incluindo os que nunca o frequentaram, cuja taxa caiu de 63,7%, em 1991, para 27,1%, em 2011.
O mesmo estudo sublinha que, em 20 anos, a escolarização média aumentou de 4,6 anos, em 1991, para 7,4 anos, em 2011. Ainda assim, há dois anos, 25 concelhos, incluindo Pampilhosa da Serra (4,58), Penamacor (4,75) e Idanha-a-Nova (4,77), ficavam abaixo da média. Em contrapartida, Oeiras (10,00), Lisboa (9,59) e Cascais (9,50) situavam-se acima da média de escolarização.
A investigação tem como meta "cartografar a educação num atlas, com publicação já no próximo ano", anunciou David Justino, que foi o titular da pasta da Educação entre 2002 e 2004, no Governo de Durão Barroso, e é agora também consultor da Casa Civil da Presidência da República para os Assuntos Sociais. Esse trabalho está a ser desenvolvido pelo Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova e pela EPIS. "O próximo passo é o de tipificar os contextos sociais de insucesso e abandono escolar, perceber a realidade de cada concelho para perceber como actuar", concluiu.
"Este mapa é muito útil para sabermos onde podemos actuar, mas não nos diz o que fazermos quando lá chegarmos", diz, por seu lado, Daniel Rijo, da Universidade de Coimbra. O professor e psicólogo apresentou, também durante conferência da EPIS, um ensaio onde salientou a importância de abordar o assunto do abandono escolar "com base em factores de risco centrados no aluno".