Quem se recorda de ver o chorão-das-praias ("Carpobrotus edulis"), que se encontra nas zonas dunares, ocupando largos espaços? E a erva-das-pampas ou os penachos ("Cortaderia selloana")? Ou as conhecidas como azedas ("Oxalis pes-caprae L.")? Nem todas estas podem ser belas, é certo. Mas o que as une é serem uma ameaça para a biodiversidade, para a economia e algumas para a saúde pública.
Elizabete Marchante, do Centro de Ecologia Funcional, pertencente ao Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra, faz-nos um retrato destas plantas, as quais cada vez mais se torna relevante conhecer: “tratam-se de plantas que são na sua maioria exóticas, ou seja não nativas de um determinado território, e que foram transportadas pelo Homem, acidental ou propositadamente. Quando chegam, arranjam vários meios para se dispersarem e se reproduzirem, aumentando a sua população e causando um impacto negativo”.
As invasoras andam à boleia não só do Homem, que transporta as suas sementes na roupa ou que as compra, mas também do vento, da água e das aves. Ou então pura e simplesmente estão durante anos depositadas em determinado solo. As estratégias variam consoante a espécie.
Plantas que nascem a partir dos incêndios
Ao aumentarem a sua população, vão constituindo um maior perigo e “acabam por interagir de forma negativa com a nossa flora e fauna”, conta a especialista. “Muitas vezes são competidoras muito eficientes e ocupam o espaço, a luz e os nutrientes, usando os recursos das outras espécies”, acrescenta.
Para determinados animais algumas invasoras são uma autêntica barreira física, impedindo-os de chegar aos seus habitats e fontes de alimento. Falamos da háquia-picante ("Hakea sericea"), natural do sul da Austrália. Como o nome indica, é uma planta espinhosa, sendo muitas vezes utilizada para sebes de proteção. Hoje em dia é das mais perigosas no país e tem aumentado cada vez mais a sua população devido aos incêndios. Esta planta é favorecida por este fenómeno uma vez que quando ela arde os frutos abrem e as sementes são "catapultadas", espalhando-se por distâncias consideráveis. As temperaturas altas promovem a germinação das sementes.
O priolo ("Pyrrhula murina"), ave endémica dos Açores, tem como inimigas várias espécies de invasoras que têm ameaçado o seu habitat. Recentemente fizeram-se ações de controlo destas mesmas plantas, o que tem ajudado na recuperação dos espaços onde ele se encontra.
Envolver o público no controlo e prevenção
Em 1999 foi publicado o decreto-lei 565/99 que listava 29 plantas invasoras no país. Hoje conhecem-se 80 espécies, sendo que metade são potencialmente invasoras [ver dados à esquerda]. De realçar que nem todas as plantas exóticas são invasoras. Muitas delas são até essenciais na nossa alimentação, como a batata, mas necessitam da ajuda do Homem para se desenvolverem.
Para se minorar o impacto das invasoras no nosso país, a educação ambiental e a sensibilização são soluções nas quais se deve investir, segundo salienta Elizabete Marchante. “É um tema ainda muito desconhecido e é preciso aumentar a educação do público em relação a ele. Deve-se fazer sobretudo prevenção. As pessoas muitas vezes, por não saberem, acabam por contribuir para introduzir novas espécies ou dispersar as que já cá estão”, alerta a especialista.
De modo a promover um maior envolvimento do público na missão de controlar as invasoras, foi lançado um site com mais informação e com um mapa interativo, para o qual qualquer pessoa pode contribuir através do envio de informações sobre uma determinada espécie avistada e a sua localização. Fazer voluntariado e campanhas de sensibilização são outras atividades que podem ser levadas a cabo. Apostar na prevenção é importante, pois “o controlo é moroso e dispendioso, envolvendo muito tempo e mão de obra, para arrancar determinadas espécies do solo, por exemplo, ou mesmo para descascar outras cujo corte não é solução”, remata.
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