Pára tudo! O Justin vem aí. “A sério? Ai, vou gritar”
São dezenas as fãs que esperam há dias por Justin Bieber. Enquanto não chega ensaiam-se coreografias para o concerto e não se largam os telemóveis. "É que ele conta tudo no Twitter."
Poder-se-ia falar do frio, da chuva ou do vento. Do dinheiro que já gastaram para estarem ali ou dos dias que faltaram, ou vão faltar, à escola. Mas a verdade é que não há nada, mas mesmo nada, que arranque do Pavilhão Atlântico as dezenas de fãs que desde sábado de manhã estão acampadas à porta do recinto. A não ser, claro, que o Justin apareça num qualquer outro lugar.
“Ai, eu ia a correr”, diz ao PÚBLICO, sem hesitar um segundo que seja, Marta, de 16 anos, para quem passar a noite ao relento em nome de Justin Bieber não é uma novidade. “Já para comprar o bilhete para o concerto passei a noite à porta da Fnac”, conta. E não foi um bilhete qualquer, mas sim o mais caro (65 euros) que dá acesso ao Golden Circle, o espaço imediatamente à frente do palco. “Eu tenho de tentar estar o mais perto dele possível.”
Mas o bilhete só por si não garante a proximidade que Marta, que veio de propósito do Porto, tanto deseja. É aliás por isso mesmo que se acampa. Todos, ou quase todos, têm o mesmo tipo de bilhete e por isso é preciso que se organizem para que quando se abrirem as portas, na segunda-feira, não se matem para arranjar o melhor lugar, como a própria diz. Por isso mesmo, está feita uma lista com os nomes das pessoas por ordem de chegada e durante o dia, e a noite (não existem cá falsos acampamentos), são feitas chamadas para confirmar se os beliebers, nome pelo qual se auto-intitulam os fãs de Bieber em todo o mundo, continuam na luta pelo lugar. Se não estão, perdem o lugar.
Marta chegou a Lisboa no sábado de manhã e por isso foi ultrapassada por aqueles que ou já vivem na capital ou chegaram mais cedo. Tem o número 106. “Mas ainda conto descer uns lugares porque há sempre pessoas que falham a chamada.”
Na verdade, estes fãs estão acampados desde sábado de manhã porque só nesse dia tiveram autorização para montar as tendas, mas a organização da lista, as chamadas e os encontros já começaram na semana passada. Érica, de 17 anos a viver em Sintra, já está no Pavilhão Atlântico desde 2 de Março e é o número 15. “Valeu a pena estar aqui a semana toda, acho que vou conseguir...” E já não acabou a frase. Pára tudo, é o Justin. Não, ele ainda não está em Portugal. É só mais uma mensagem no Twitter.
“Oh Érica, oh Érica ele twittou. O Justin vem aí”, grita uma jovem agarrada ao seu telemóvel, interrompendo a entrevista da amiga. “A sério? O que é que ele diz? Ai, vou gritar.” E não foi a única. Se uma simples mensagem de Bieber no Twitter gera esta histeria, é muito difícil imaginar o que amanhã vai acontecer no Pavilhão Atlântico.
“Eu não sei, espero o melhor concerto do mundo. É um sonho tornado realidade, há quatro anos que espero por isto”, diz Vasco, 15 anos, do Porto. “Ele sabe o que faz, ele é o melhor nisto”, continua, não poupando elogios ao músico. Mas também aos fãs portugueses. “Tenho a certeza que depois do concerto de amanhã o Justin vai perceber que nós em Portugal gostamos mesmo dele e o respeitamos como artista. Tenho visto que nos outros países os fãs limitam-se a estar lá e a levantar os braços, nós vamos provar que somos diferentes.”
E o que é ser diferente? “Temos vários planos preparados”, continua o jovem, que amanhã com os amigos vai mostrar a Bieber a mensagem We will love you forever num grande cartaz. “E também lhe vamos cantar os parabéns [Bieber fez 19 anos no dia 1 de Março], é uma surpresa.”
Vasco não tem dúvidas de que Justin Bieber vai gostar, assim como tem a certeza de que a sua paixão pelo músico vai também aumentar depois do concerto. “Ele é único, ele faz-nos acreditar que os nossos sonhos se podem realizar”, continua, sem nunca perder o fôlego e, claro, sem nunca parar de elogiar o músico. “Ele é tudo”, diz sem qualquer vergonha, mesmo que esta sua paixão, e a falta de vergonha por ela, o tornem no motivo de gozo na escola. “As pessoas são injustas e por vezes muito más, mas se há coisa que o Justin nos dá é força para enfrentar isto”, explica o rapaz, que tinha bilhete para os dois concertos.
Pais alimentam paixão
“Não quis perder esta oportunidade, tenho pena que o segundo tenha sido cancelado mas entendo todas as opções do Justin”, diz Vasco. E há carteira que suporte tudo isso? “Tem de haver, faz-se um esforço. Ou melhor, os nossos pais fazem um esforço e tentam-nos ajudar, eles querem o melhor para nós e por isso entendem”, diz Vasco, suspeitando que a ajuda dos pais é também para ver se lhe passa “a febre”.
Não é por isso de estranhar que ao longo da tarde deste domingo fossem muitos os pais a circundar o acampamento. Chegam de sacos, ora com comida, ora com cobertores. E há ainda uns que montam as tendas, enquanto os filhos partilham a euforia com os outros beliebers. Não querem que lhes falte nada, nem que a pouca idade os impeça de participar neste acontecimento. Como é o caso de Anabela, a acampar com a filha Ana Raquel, de 13 anos. “E também vou ao concerto”, diz a mãe que veio de propósito do Porto e que garante ter aprendido a gostar do Justin Bieber. “Eu já tive a idade dela e também tive assim algumas experiências, faz parte”, conclui.
Da mesma opinião é Carlos, pai de Marta. “É uma oportunidade que eles tiveram e por isso nós tivemos de fazer um bocadinho a vontade”, explica o pai, para quem participar nesta paixão da filha, tendo até tirado uns dias no trabalho para a poder acompanhar, é uma espécie de recompensa. “Se ela tem boas notas e não se portou mal, merece. Enquanto assim for está tudo bem”, diz, explicando que “faltar um dia à escola não é problema”. “Nós temos de dar um bocadinho quando eles nos retribuem.”
E é isso mesmo que estes fãs estão à espera. Que o Justin lhes retribua toda esta dedicação. Mas se por acaso assim não for, não faz mal. É o Justin e ao Justin perdoa-se tudo.