Mamã

Não basta ter um elenco encimado pela actriz do momento nem a bênção do produtor Guillermo del Toro para fazer de Mamã o filme de terror gótico que se desejaria. Não é, atenção, falta de ideias nem de talento - nem uma nem outra faltam ao espanhol Andy Muschietti, aqui em estreia na longa-metragem com uma expansão da sua aclamada curta de 2008. Basta ver um par de cenas (como aquela que permite ao espectador ver a “normalidade” e o “sobrenatural” coexistindo num mesmo momento) para perceber o que atraiu Del Toro a esta história de uma mulher que se descobre mãe improvisada e relutante das sobrinhas do namorado, que viveram cinco anos isoladas do mundo e regressam à civilização acompanhadas por uma estranha presença sobrenatural.


É, outra vez, um conto de fadas entre o maravilhoso e o horrível, sobre as pontes invisíveis entre a realidade e o além acordadas por experiências traumatizantes; é, outra vez, um filme que procura erguer o filme de género à condição de metáfora da maternidade, à imagem do Labirinto do Fauno e de uma outra produção do realizador mexicano, O Orfanato. Só que aqui a maionese não pega, culpa de um argumento algo esquemático que muito rapidamente deixa cair a elegância elíptica do primeiro acto para tropeçar em todas as armadilhas do susto chapa-quatro, de um realizador que não tem ainda a segurança suficiente para as contornar e de efeitos visuais abaixo da média. E mesmo com Jessica Chastain, Mamã podia ter ficado pela curta que tínhamos ficado todos melhor.

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