Três gerações, um protesto: onde vais estar daqui a um ano?
Fomos para a rua no 2 de Março com uma pergunta na algibeira. Onde vais estar daqui a um ano? As respostas de três mulheres, três gerações, entre as incertezas de um futuro desassossegado
Maria Rodrigues
20 anos
“Eu espero que a luta continue e que nós consigamos, de facto, combater estas políticas; [espero] que este Governo se demita e que venha uma alternativa que tenha políticas que sirvam o povo, os trabalhadores e o país... e os jovens."
Vera Santos
40 anos
“Não faço ideia. Onde for necessário. Como hoje, por exemplo.”
Isaura Ventura
64 anos
“Não sei, acho que já perdi um bocado a esperança. Quando começou esta grande crise, fiquei muito decepcionada, muito frustrada porque trabalhei ao longo de uma vida a pensar que ia ter uma velhice descansada, calma, com algum desafogo e com dinheiro para pagar um lar quando precisasse dele. Agora não tenho nenhuma certeza sobre isso. A minha filha foi obrigada a emigrar porque tirou um curso superior e percebeu, há dois anos, que não tinha futuro em Portugal. Resolveu ir para o Reino Unido e eu fiquei sozinha. Neste momento sou uma família unipessoal e [estou] sozinha. Sempre tive uma carreira profissional responsável, a ganhar algum dinheiro poque também sou licenciada, e nunca pensei que isto fosse acontecer. Mas aconteceu. Por isso, pergunta-me o que é que eu farei de hoje a um ano? Muito sinceramente, neste momento não consigo pensar a médio prazo, só consigo pensar no amanhã e a muito curto prazo. Eu nunca imaginei que a minha vida desse esta volta de 360 graus e ficasse sozinha depois de ter investido na educação da minha filha; pensei que, finalmente, ia ter alguma disponibilidade de dinheiro, que ela iria — quando fosse possível —arranjar um emprego. Investi numa casa para ela e, neste momento, estou com duas casas com crédito, a pagar duas casas porque tudo isto saiu ao contrário. Por isso, não posso dizer onde é que eu penso estar daqui a um ano."