Como uma lesma contribui para 12 mil milhões de euros em prejuízos na Europa
Estudos da Agência Europeia do Ambiente dão conta de como 28 espécies invasoras podem ameaçar a saúde, a natureza e a economia.
Para melhor conhecer as espécies invasoras e os impactos que podem causar na biodiversidade, saúde e economias europeias, a Agência Europeia do Ambiente acabou de publicar estudos que fornecem pistas para o seu controlo. Porque os danos podem ser significativos.
Xenofobia à parte, não é apenas por serem estrangeiras que se lhes pode apontar o dedo. Algumas, incapazes de sobreviver sozinhas, não colocam qualquer problema nos países que agora colonizam, longe da pátria. O caso mais conhecido é o da batata, originária do outro lado do oceano, mas que mudou os hábitos alimentares dos europeus.
Por razões alimentares ou ornamentais, ou simples acaso, são muitas as espécies não-nativas trazidas para a Europa e que agora se espalham pelo Velho Continente. Mas alguns destes bichos, fungos ou plantas têm uma capacidade invejável de chegar, ver e vencer. Sem predadores naturais, impõem-se, destroem as suas congéneres e causam milhares de problemas.
Nem é preciso sair da Europa para se perceber que espécies que viviam sem sobressalto em determinadas áreas são capazes de se transformar em monstros noutras. Peguemos num bicho que os portugueses tão bem conhecem: o coelho. Natural da Península Ibérica, foi levado pelos romanos para outras paragens há muitos séculos. E se nalguns casos não coloca qualquer problema, servindo para alimentar rapinas ou humanos ou até servir como presa de caça, noutros locais destrói campos agrícolas ou condena outras espécies à fome por tudo comer.
Mas há casos que só trazem malefícios, sem que se vislumbrem quaisquer benefícios. É o caso do mexilhão-zebra, natural da Rússia, e que chegou à Europa em cascos de navio ou por expansão natural através das vias fluviais postas em contacto pela engenharia do homem. Com fêmeas capazes de pôr um milhão de ovos por ano, aglomeram-se em canos e outras infra-estruturas, bloqueando-as. Foi o que chegou a acontecer com o reservatório para arrefecimento de água de Tchernobil.
Outros dois casos de espécies exóticas invasoras que têm vindo a inquietar os portugueses dizem respeito a dois insectos – mortais. Um é o escaravelho-vermelho-das-palmeiras, que não tem feito mais nada do que secar as árvores até ao seu definhamento. Há centenas de casos reportados no país. Outra, de que se tem falado recentemente mas que já é uma velha conhecida dos europeus, é a vespa-asiática, que não consegue conviver com as abelhas, desertificando colmeias.
Mas embora Portugal tenha casos graves com exóticas – com os das acácias, do jacinto-de-água ou do lagostim-do-luisiana –, a maioria das espécies agora estudadas pela Agência Europeia do Ambiente afecta sobretudo o resto da Europa. E vão desde a lesma-espanhola, que destrói culturas agrícolas, a plantas como a ambrósia-gigante, que potencia alergias como a febre-dos-fenos. São 28 espécies estudadas, que incluem insectos como o mosquito-tigre, acusado de transmitir 20 doenças diferentes, ou o esquilo-cinzento, dramático em certas zonas agrícolas.
O aumento do turismo e das trocas comerciais entre os países pode ter potenciado o número de espécies exóticas existentes na Europa, uma tendência que tem tudo para continuar, agravada pelas alterações climáticas que fazem com que habitats antes inóspitos para algumas espécies se tornem agora aprazíveis.
Este estudo é mais um contributo para a estratégia europeia de defesa da sua biodiversidade, ameaçada por inúmeros factores a que se acrescentam as espécies invasoras, tidas como estando a pôr em causa 110 das 395 espécies nativas da Europa que estão classificadas como criticamente em risco de extinção.