O candidato italiano caído em desgraça por causa da pós-graduação que só existia no seu CV
Oscar Fulvio Giannino já não lidera o partido de inspiração libertária que fundou em Agosto do ano passado.
Ainda disputa com o cómico Beppe Grillo o lugar do mais exótico dos candidatos à presidência do Governo italiano nas eleições de domingo e segunda-feira. Mas desde esta quarta-feira Oscar Fulvio Giannino já não lidera o partido de inspiração libertária que fundou em Agosto do ano passado.
“Quem erra paga”, escreveu na sua conta de Twitter, dois dias depois de um seu colega de partido ter divulgado que nunca fez a pós-graduação em Finanças Públicas e Empresariais na Universidade Booth de Chicago que consta do seu curriculum disponível online, onde terá sido incluído depois de o próprio se ter referido a estas qualificações numa entrevista à televisão do jornal La Repubblica.
Aliás, Giannino, com o seu bigode, barba, óculos de académico e discurso contra a corrupção, nem sequer tem um bacharelato – para além da pós-graduação, do curriculum constavam ainda duas licenciaturas, uma em Direito, outra em Economia. Sim, esteve inscrito numa universidade italiana, onde completou algumas cadeiras, e até na Universidade de Chicago mas lá só estudou Língua Inglesa.
Jornalista e autor, Giannino lançou-se na política para pôr em prática o sonho de um grupo de amigos com vida académica nos Estados Unidos: o de trazer para Itália a ideia de um mercado completamente livre das amarras do Estado. Fare, ou Bilhete para Travar o Declínio, assim se chama o partido que fundaram o ano passado e que contava roubar votos ao Povo da Liberdade, a formação de direita de Silvio Berlusconi.
Foi precisamente um desses amigos que o denunciou, o realmente economista e professor da Universidade de Chigaco Luigi Zingales, que com ele rivalizava pelos holofotes mediáticos que a vida política oferece. Zingales descobriu a mentira e divulgou um comunicado a denunciá-lo no início da semana.
“Em Itália, onde todos os dias o presidente de uma empresa ou um político podem ser preso por corrupção, uma mentira na televisão pode parecer um erro desculpável. Mas para mim não é”, escreveu Zingales, anunciando que abandonava o partido. “Os italianos estão desesperados por líderes nos quais possam confiar… A única forma de nos protegermos é começar no topo.”
“A demissão da presidência da direcção é irrevogável. Os danos que vou sofrer pelo meu erro privado e inofensivo não devem prejudicar o Fare”, anunciou Giannino no decorrer de uma reunião da direcção do partido que se prolongou por quatro horas. “É uma regra seca: quem erra paga. Deve valer para a política e para os fundos públicos, eu começo na vida privada.”
Segundo responsáveis do partido ouvidos pelos jornais italianos, foi difícil convencer Giannino a deixar a direcção.
Giannino abandona a liderança do Fare mas vai continuar nos boletins de voto do partido às legislativas – é demasiado tarde para ser substituído. Continua por isso a ser um dos fenómenos destas eleições e até o facto de ter pago um preço por ter mentido aumenta a dimensão do prodígio: estas são provavelmente as últimas eleições às quais se apresenta Berlusconi, o empresário-político acusado de dezenas de crimes (de fuga ao fisco a abuso de poder) e ainda nunca condenado.
As últimas sondagens conhecidas, publicadas a 8 de Fevereiro, antes do arranque da campanha oficial, davam a vitória a Pier Luigi Bersani e ao seu Partido Democrático, a maior formação de centro-esquerda, seguido do PdL de Berlusconi. Em terceiro lugar surge o Movimento 5 Estrelas, as listas de cidadãos lideranças pelo cómico e blogger Beppe Grillo. Em quarto, Mario Monti, o primeiro-ministro cessante que sem nunca ter sido eleito governou a Itália nos últimos 14 meses, desde que Berlusconi foi obrigado a afastar-se por uma mistura de crise e escândalos.
À frente do Fare aparecia ainda o partido Revolução Civil de Antonio Ingroia, o ex-procurador de Palermo a quem as sondagens previam cerca de 4%, bem abaixo dos 8% obrigatórios para conseguir eleger membros no Senado. Ao Fare as sondagens não antecipavam mais do que 1,7% dos votos.