Moutinho de ouro
O FC Porto ganhou vantagem nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões ao derrotar, no Estádio do Dragão, o Málaga, por 1-0.
Pela sexta vez desde que, em 2003-04, venceu a Liga dos Campeões, o FC Porto voltou a disputar os “oitavos” da competição. Nas cinco ocasiões anteriores, o desenlace das eliminatórias deixou poucos motivos para os “azuis e brancos” sorrirem mas, na única vez em que foram bem-sucedidos e alcançaram o apuramento para os “quartos”, o adversário era espanhol (Atlético de Madrid). A esse bom prenúncio, o FC Porto aliava um ligeiro favoritismo sobre uma equipa andaluza pouco habituada a andanças deste nível e um departamento médico quase sem clientes, coisa rara nos últimos tempos no Dragão. Defour era o único indisponível.
Com James e Varela aptos, Vítor Pereira optou por colocar apenas o português no “onze”. Após um mês e 10 dias ausente dos relvados, o colombiano regressou na última jornada do campeonato em Aveiro, onde jogou duas dezenas de minutos, mas o ritmo de jogo de James ainda está longe de ser o desejado. Por isso, pelo quarto jogo consecutivo, Izmailov foi titular. Com a colocação do russo na esquerda durante 70 minutos, Vítor Pereira não tirou partido de um das debilidades deste Málaga (a adaptação do lento Sánchez a defesa direito). A velocidade de Atsu podia ter feito a diferença.
Do outro lado, Manuel Pellegrini não foi tão previsível quanto Pereira. O treinador não abdicou do predilecto 4x2x3x1, mas algumas das peças apresentadas no xadrez foram uma surpresa. Se na defesa esteve tudo como previsto, no meio-campo o chileno colocou o conterrâneo Iturra (em 2010-11 teve uma passagem discreta por Leiria) ao lado de Toulalan, relegando Camacho para o banco. Na frente, o talentoso Isco foi deslocado para a esquerda para abrir um lugar nas costas do ponta-de-lança para a “besta” Júlio Baptista e, na decisão mais inesperada, Santa Cruz foi o escolhido para ser o “9”. Numa atitude arrojada, Pellegrini abdicou da mobilidade de Saviola, colocando um jogador fixo no meio de Mangala e Otamendi. A aposta revelou-se um flop.
Apesar do aparente atrevimento de Pellegrini, o Málaga desde cedo mostrou que estava pouco interessado em correr riscos e o jogo acabaria por se decidir na luta a meio-campo e nos duelos nas faixas. Se, no centro, Lucho e Moutinho tinham pela frente uma árdua batalha perante dois destruidores natos (Toulalan e Iturra), nos extremos a dificuldade portista em criar desequilíbrios deveu-se a um equívoco de Vítor Pereira (Izmailov contra Sánchez) e ao mérito de Antunes (o ex-pacense raramente cedeu um milímetro a Varela).
O resultado desta equação foi um jogo muito mastigado a meio-campo e raríssimas oportunidades de golo. Com claro domínio na posse de bola, o FC Porto conseguia fazer o jogo apoiado que tanta gosta, mas a bola nunca chegava a Jackson. Nos primeiros 45 minutos, o FC Porto apenas esteve perto do golo aos 18’ (desvio de cabeça de Varela). Para além disso, um par de remates de longe e pouco mais.
No recomeço, o Málaga surgiu mais afoito nos primeiros minutos. Apesar de estarem os mesmos 22 jogadores em campo, uma ligeira alteração de Vítor Pereira fez a diferença. O treinador trocou os extremos e foi com Varela na esquerda que surgiu o golo que, para já, faz toda a diferença.
Aos 56’, pouco depois de Izmailov desperdiçar uma flagrante oportunidade, Varela e Alex Sandro deram um nó a Sergio Sánchez, o brasileiro colocou na área e Moutinho, ligeiramente adiantado em relação à defesa do Málaga, fez o golo que pode valer ouro na eliminatória.
Quebrada a resistência dos espanhóis, Vítor Pereira ainda lançou James (58’) e Atsu (70’), mas o Málaga manteve-se inofensivo (Helton foi mais um espectador) apesar da desvantagem e o FC Porto já não queria querer riscos desnecessários perante um rival que ainda não tinha perdido na prova.
FIGURA DO JOGO: João Moutinho
Dizer-se que João Moutinho não sabe jogar mal já é uma redundância, mas o médio, jogo após jogo, seja na selecção nacional ou no FC Porto, continua a provar que é dos melhores do mundo na sua posição. Num jogo muito complicado para os portistas, que encontraram pela frente uma equipa espanhola pouco interessada em atacar, João Moutinho foi sempre o mais inconformado. Na véspera do embate no Estádio do Dragão, o diário desportivo espanhol Marca definiu o internacional português como o catalisador do futebol ofensivo dos "azuis e brancos", mas a avaliação ao médio pecou por defeito. Moutinho já é muito mais do que isso. O "8" do FC Porto não só assume, quase em exclusivo, as funções de organizar as transições defesa-ataque, como também já arrisca junto da baliza contrária. O golo que marcou, que pode revelar-se decisivo na eliminatória entre portugueses e espanhóis, é um belo exemplo disso.